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Correio Braziliense
“Bolsonaro,
para atender os aliados. sinaliza que o ministro Paulo Guedes não tem carta
branca em matéria de abertura da economia”
O ministro da Economia, Paulo
Guedes, perdeu a queda de braço com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina,
e a bancada do agronegócio em relação à alíquota de importação do leite, o
primeiro round de uma série de disputas da equipe econômica com os setores da
economia que apoiaram Jair Bolsonaro na campanha eleitoral e querem mais
proteção econômica em troca do apoio no Congresso. Segundo o presidente da
Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), o
governo deve publicar até amanhã a medida que aumentará o imposto de importação
de leite em pó da União Europeia e da Nova Zelândia, compensando o fim da taxa
antidumping que era adotada pelo Brasil até a semana passada e foi extinta por
Guedes. No Twitter, o presidente Jair Bolsonaro comemorou o aumento do imposto.
A decisão tomada por Bolsonaro para
atender os aliados sinaliza que o ministro Paulo Guedes não tem carta branca em
matéria de abertura da economia. O decreto deve considerar a antiga taxa
antidumping, de 14,8% para o leite da União Europeia, mais os 28% da taxa atual
de importação, o que somaria 48%, que era cobrada sobre o leite em pó importado
desde 2001. No caso da Nova Zelândia, havia um adicional de 3,9%. O pretexto é
compensar os efeitos do dumping, ou seja, a suposta concorrência desleal ao
vender para o Brasil um produto abaixo de seu preço de custo, causando prejuízo
à produção local.
A decisão contraria a ideia de menos
intervenção do Estado na economia e mais liberdade para o mercado, além de ser
controversa quanto à importação de leite em pó, que é baixíssima. Não há
comprovação de dumping da União Europeia, pois as importações estão na faixa de
US$ 1.000 por dia, um valor considerado baixo; não houve importações da Nova
Zelândia. O leite em pó importado contribui com apenas 2,4% do consumo
nacional. Na verdade, o que existe é o temor de que ambos aproveitassem o fim
da alíquota para “inundar” o mercado brasileiro de leite em pó. “Não tenho
dúvida de que é preciso abrir a economia, mas essa abertura tem de ser gradual,
cuidadosa, para não desmobilizar o setor produtivo nacional”, pondera o
deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), ex-secretário de Agricultura de São Paulo.
A mudança de rumo gerou tensão no
governo. A ministra da Agricultura lidera a reação do agronegócio à redução dos
subsídios no crédito agrícola com a mudança do modelo de financiamento em
estudos na equipe econômica. Guedes procurou Tereza Cristina pessoalmente, em
seu gabinete, na segunda-feira à noite, e despachou o secretário executivo da
Economia, Marcelo Guaranys, e o secretário especial de Comércio Exterior,
Marcos Troyjo, para uma reunião com a bancada ruralista na manhã de ontem. Já
chegaram derrotados, Bolsonaro apoiou a bancada.
Ao atender produtores de leite
insatisfeitos com a revogação da taxa antidumping, porém, o presidente da
República arranha a credibilidade da abertura da economia, porque põe em dúvida
o modelo que será adotado pelo governo. Mesmo na Frente Parlamentar do
Agronegócio há questionamentos sobre a eficácia, a médio e longo prazos, do
excesso de proteção. Além disso, outros setores econômicos em dificuldade com a
concorrência, como as indústrias têxtil e de calçados, começam a atuar no
sentido de manter subsídios e fechar a economia.
Previdência
Outro sinal de “devagar com o andor”
em relação à política econômica foi a decisão de Bolsonaro sobre a idade mínima
para aposentadoria no país. A equipe econômica defendia 65 anos para homens e
mulheres; o presidente da República reduziu para 62 anos para homens, e 57 para
mulheres, com validade até 2022, no fim de seu mandato. A proposta facilitará a
vida do governo no Congresso, mas terá repercussão negativa junto aos agentes
econômicos. O projeto de reforma da Previdência somente será finalizado depois
de Bolsonaro deixar o Hospital Alberto Einstein, em São Paulo, onde se recupera
de uma pneumonia e da operação de retirada da bolsa de colostomia, o que pode
acontecer hoje ainda. A equipe econômica quer garantir uma economia de R$ 1
trilhão em 10 anos e criar mecanismos de ajustes automáticos no sistema de
previdência, sem necessidade de novas emendas constitucionais. Na versão
encaminhada a Bolsonaro, quem ganha mais pagará mais, com alíquotas de 7,5% a
14%.
Paz no Senado
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP),
fechou acordo com os líderes das bancadas para a composição das comissões
permanentes da Casa. O MDB ficará com a presidência da Comissão de Constituição
e Justiça (CCJ), da Comissão Mista de Orçamento e de Educação. PSD, Assuntos
Econômicos (CAE) e Relações Exteriores (CRE); o PSDB, Desenvolvimento Regional
(CDR) e Fiscalização e Controle (CFC); PT, Direitos Humanos; Rede, Meio
Ambiente; PSL, Agricultura; DEM, Infraestrutura; Podemos, Assuntos Sociais; PP,
Ciência e Tecnologia; PRB e PSC se revezarão na Comissão Senado do Futuro.
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