País depende de produto importado para atender o consumo interno

Data: 06/06/2016
VALOR ECONÔMICO -SP
Jornalista(s): Domingos Zaparolli | Para o Valor, de São Paulo

Entre janeiro e abril, as receitas da indústria brasileira com exportações de alumínio e seus produtos foram 18,7% menores do que o registrado no mesmo período de 2015. Somaram US$ 356 milhões com o embarque de 164,4 mil toneladas. O recuo no valor das importações no período foi ainda mais significativo, 30%. Foram adquiridos no exterior 197,3 mil toneladas por U$ 458 milhões. Transações que geraram um déficit de US$ 102 milhões, uma queda de 52,8% quando comparado ao primeiro quadrimestre do ano passado. Em todo o ano de 2015, o déficit foi de US$ 567 milhões.

A balança comercial da cadeia produtiva do alumínio só é positiva devido às vendas ao exterior de bauxita e de alumina.

Milton Rego, presidente executivo da Associação Brasileira de Alumínio (Abal), avalia que o comércio exterior do setor terá em 2016 um desempenho muito parecido com o verificado no ano passado. "Projetamos um aumento de 2% nas exportações de bauxita e de 4% em alumina. O déficit em alumínio e seus produtos recuará, mas não de maneira significativa."

A queda no valor das importações é reflexo de um conjunto de fatores. O primeiro deles é uma queda do consumo nacional, que depois de recuar 8,5% em 2015 tende a cair novamente em 2016, em até 7%. Há também uma retração nos valores internacionais do metal. Apenas em 2015 o preço do alumínio na Bolsa de Londres caiu 11%. Por outro lado, a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar tornou a produção local mais competitiva, permitindo uma substituição de produtos acabados importados por nacionais.

O quarto fator é um maior controle por parte do governo brasileiro de importações irregulares. Segundo Milton Rego são duas as ações governamentais em curso. Uma delas executada pela Receita Federal é a investigação mais rigorosa sobre fraudes no registro de itens importados, com a entrada no país de produtos falsamente registrados como itens beneficiários de taxas alfandegárias mais baixas. "Não temos uma estimativa dos produtos importados fora de sua classificação tributária correta, mas sabemos que se trata de um volume significativo", diz.

A outra ação ocorre no âmbito do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Trata-se da verificação de práticas desleais de comércio, como dumping, por parte de fornecedores internacionais, principalmente chineses. O governo brasileiro ainda está no primeiro estágio, o de análise dos preços dos produtos importados em relação aos valores internacionais. O desfecho da verificação pode levar a um questionamento da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), como já feito pelos Estados Unidos e países da União Europeia.

A China é um fator desestabilizador do comércio internacional. Em um prazo de apenas 15 anos passou da condição de responsável por 9% do consumo mundial para detentor de 52% do consumo e da produção global. Em 2015, agregou quatro milhões de toneladas à sua capacidade produtiva, cinco vezes a produção brasileira. A capacidade de produção chinesa soma 31 milhões de toneladas. "O problema é que o investimento em produção e a formação de preços na China não respondem à lógica do mercado. São decisões de governo, o que torna impossível a competição", diz Rego.

A produção brasileira de alumínio primário é decrescente. Em 2014 foi de 962 mil toneladas, caindo para 772 mil toneladas em 2015 com uma projeção de 756 mil toneladas neste ano. O consumo, porém, está na casa de pouco mais de um milhão de toneladas, exigindo que a diferença seja coberta por importações de 340 mil toneladas anuais. Para 2017, o volume importado deve crescer, estima o presidente da Abal. "Esperamos uma retomada do crescimento do consumo interno, mas não há perspectiva de crescimento da produção", diz.

O analista independente Pedro Galdi avalia que a produção brasileira de alumínio primário deve mesmo cair nos próximos anos. "A estratégia das empresas é produzir alumina no Brasil, para aproveitar a excelente oferta de bauxita, e fazer a transformação do alumínio onde o custo da energia seja mais competitivo", diz. A transformação do alumínio é eletrointensiva e a tendência é que os preços da energia elétrica brasileira subam nos próximos anos para recuperar as grandes perdas geradas pelas políticas energéticas dos últimos anos, avalia Galdi.

Milton Rego diz que não há previsibilidade sobre o futuro da oferta energética brasileira, o que impede o planejamento de longo prazo dos produtores de alumínio primário. Por outro lado, não há perspectivas imediatas de crescimento das exportações de produtos acabados. "A competitividade da indústria brasileira é baixa e nossos principais clientes, os países da América Latina, não apresentam tendência de crescimento no consumo", diz.

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