Custo do transporte é principal barreira ao comércio exterior

O aumento das exportações da América Latina depende muito mais da diminuição dos custos dos transportes do que da redução de tarifas. O alerta está na pesquisa Desobstruindo as artérias: o impacto dos custos de transporte sobre o comércio exterior da América Latina e Caribe. Produzido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o estudo inclui dados de nove países – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Paraguai e Uruguai.

A pesquisa será apresentada na quarta-feira, 1º de outubro, em Brasília, durante o seminário Transporte para o Comércio e a Integração Regional, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o BID. Os participantes discutirão a relação dos custos de transporte com o comércio exterior da América Latina e proporão soluções para os gargalos logísticos que afetam as exportações brasileiras.

De acordo com o estudo, um corte de 10% no valor das tarifas aumentaria em menos de 2% o volume de exportações desses países. Por outro lado, se a mesma redução ocorresse no custo dos transportes, as vendas externas aumentariam 39%. O cálculo pressupõe a estabilidade dos demais fatores, como câmbio e crescimento da economia. Para o economista do BID Mauricio Mesquita Moreira, um dos autores da pesquisa, os governos dos países da América Latina estão mais preocupados com barreiras tarifárias e não-tarifárias e se esquecem de outros obstáculos maiores, como o custo com transporte. “A política comercial na região está fora de foco”, critica Moreira.

O relatório mostra também que, se países da América Latina reduzissem em 10% os custos com frete, haveria um crescimento de mais de 20% no comércio da região. Caso a redução fosse em tarifas, o aumento seria de apenas 10%. A redução dos custos de transporte beneficiaria os produtos manufaturados de Brasil, Chile, Equador, Peru e Uruguai e as exportações de minérios e metais de Argentina, Colômbia e Paraguai.

A América Latina gasta 7% do valor das exportações com frete, quase o dobro dos 3,7% gastos pelos Estados Unidos. Para o Brasil, esse custo equivale a 5,5% do preço do produto. “Mesmo menor que a média latino-americana, o país tem gasto com transporte bem mais elevado do que os Estados Unidos”, afirma Moreira. “As taxas alfandegárias não são os maiores obstáculos ao comércio exterior, com raras exceções, como em álcool, algodão e laranja. Na maioria dos produtos, o custo com transporte pode ficar até 50% mais alto do que as tarifas.”

O pesquisador ressalta que há espaço para redução no valor do transporte. No entanto, reconhece que os produtos exportados pelos países da América Latina exigem maior alocação de frete, o que acaba encarecendo os custos. “É muito diferente pegarmos um dólar de chip exportado e um dólar de soja, que tem peso significativamente maior. Se dividirmos o peso do produto pelo seu valor, o custo com transporte fica muito mais alto para produtos primários do que para eletrônicos”, explica.

INEFICIÊNCIA DOS PORTOS - Os custos com transportes das importações dos países latino-americanos representam quase o dobro dos gastos dos Estados Unidos. De acordo com estudo, a Argentina gasta 22% mais que os norte-americanos, o Chile duas vezes, e o Paraguai mais que quatro vezes. As exportações latino-americanas e caribenhas para os Estados Unidos pagam taxas de frete oceânico, em média, 70% mais altas do que as pagas pelos produtos holandeses.

O relatório aponta também que cerca de 30% dos custos com transporte na América Latina se devem à ineficiência dos portos. Para Moreira, esse é o dado que tem mais importância para a construção de políticas públicas ao setor. “Uma das principais causas da ineficiência é a concorrência portuária, que é menor na América Latina do que nos Estados Unidos e na Holanda”, destaca. “Nessa área, é possível reduzir as interferências do governo, como os acordos de restrição à cabotagem.”

Outro obstáculo está nas importações feitas por meio do transporte aéreo. De acordo com a pesquisa, os custos de frete aéreo aumentaram muito mais rápido na América Latina do que na China e no resto do mundo. As taxas de frete em 2006 no Caribe, por exemplo, eram 36% mais altas do que em 1995. Nesse período, a China manteve os custos abaixo da marca de 1995, apesar da elevação dos preços do petróleo.

Moreira informa que, no Brasil, os fretes aéreos são quase três vezes mais caros do que nos Estados Unidos. Outro problema é que consumidores e produtores não são informados sobre esses custos. “Se o frete custar 3% do valor do produto e a tarifa 100%, o frete representará 1,5% do valor pago pela importação”, exemplifica. “Por conta desse valor aparentemente reduzido, as pessoas não costumam prestar atenção no custo do frete.”

Entre as sugestões apontadas no estudo do BID está a da incorporação de uma agenda de transporte nas discussões de comércio exterior. “Isso não envolve só obras de infra-estrutura, mas a regulação do setor. É preciso criar um ambiente regulatório que estimule ao máximo a concorrência e explore a economia de escala”, destaca Moreira.  

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