Concursos: uma indústria com 12 milhões de clientes

O Estado de S. Paulo - 28/10/2013

Em um momento qualquer, pode-se encontrar cerca de 2.800 concursos em andamento em todo o País, em todos os níveis. Nem todos estão em aberto, mas há uma legião de candidatos - ou concursei-ros, no jargão do segmento - interessados em saber notas, avaliações, pontos e, o mais importante, se o seu nome está entre os que serão chamados para trabalhar. Todo ano, cerca de 12 milhões de estudantes passam por esse suspense.

O número aumenta a cada ano. O mercado cresce mais de 40% ao ano no Brasil. A previsão de empresas entidades do segmento é que até 2016 sejam abertas 400 mil vagas em concursos federais, estaduais e municipais. E as empresas do setor, congregadas pela Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (An-pac), tentam alcançar quanto mais interessados, agora com a ajuda da internet. Praticamente todos os cursos

estão investindo em plataformas virtuais para educação a distância e ensino por TV via satélite. Em todos os 5.570 municípios brasileiros, existem apenas 447 que têm escolas presenciais, com 1.112 unidades, segundo levantamento do Instituto IOB. A expectativa da Anpac é que o número de estudantes para concursos salte de 12 milhões (três milhões a distância) para 20 milhões no ano que vem. A maior parte da diferença provável-mente virá do ensino a distância.

As empresas de concursos e seus cional, as mesmas regras definidas há cerca de um ano pelo governo do Distrito Federal: proibição de concurso só para cadastro de reserva, intervalo mínimo de 90 dias entre o edital e a prova e, ainda, a proibição de dois concursos no mesmo dia.

Há um projeto de lei (74/2010) que pretende se transformar na Lei Geral de Concursos Públicos, mas que ainda tramita no Senado.

Uma das queixas dos concurseiros está nas mudanças de editais depois da abertura de inscrições. Segundo estudantes e especialistas da área, essas modificações podem prejudicar o planejamento e o desempenho dos candidatos. De acordo com o diretor da Associação Nacional de Defesa e Apoio aos Concurseiros, Vincenzo Papariello, embora não haja um levantamento específico apontando a frequência com que essas alterações ocorrem, elas "não são raras". Ente as mais observadas, segundo ele, estão as mudanças em datas de provas, seu cancelamento e a inclusão de itens no conteúdo programático dos exames, assim como a retirada de algum ponto.

"É uma situação que desestabiliza o candidato, que pode perder o foco e a motivação. A preparação começa cedo e há todo um planejamento", diz Papariello.

Pior, o projeto cria uma limitação, ao estabelecer um limite temporal para a impugnação do edital, de apenas cinco dias úteis após a publicação. Até agòra as impugnações feitas, inclusive depois das provas, vêm sendo aceitas, mas certamente passarão a ser recusadas mesmo dentro do período de inscrição, se a norma for mesmo aplicada. A última notícia que se tem do PL 74/2010 - de julho - é que foi aprovado no Senado e seguiu para a Câmara. Quando sairá de lá, ninguém sabe.