UE reduz orçamento pela primeira vez

O Globo - 20/11/2013

OCDE corta previsão de crescimento da economia global de 3,2% para 2,7%

BRUXELAS E PARIS - Com a maior parte de seus 28 membros enfrentando dificuldades econômicas, a União Europeia (UE) promoverá o primeiro corte de Orçamento desde a sua criação, em 1993, e reduzirá as verbas direcionadas a programas de incentivo ao emprego e a investimentos.

Após meses de negociações, o Parlamento da UE aprovou ontem o Plano Plurianual de 2014 a 2020 com € 960 bilhões, abaixo dos € 975 bilhões do período anterior e do € 1 trilhão inicialmente sugerido pelo escritório central. A proposta foi aprovada em Estrasburgo, na França, com 537 votos a favor, 126 contra e 19 abstenções. O presidente da UE, Herman Van Rompuy, avaliou o compromisso como “um orçamento realista para a Europa’ O Reino Unido comemorou a decisão.

Mas as restrições também provocaram críticas de alguns negociadores, para quem os gastos deveriam ser incrementados a fim de estimular a atividade econômica na região. — A situação está melhorando, mas ainda é um ambiente frágil — destacou ontem Peter Praet, membro do conselho executivo do Banco Central Europeu (BCE). Na semana passada, Praet já havia cogitado a compra de título — num modelo semelhante ao aplicado nos FITA e no Japão — a fim de elevar a inflação, que caiu a 0,7% em outubro.

A meta é de 2%. Com o mesmo objetivo, a autoridade monetária cortou, neste mês, os juros do bloco de 0,5% para 0,25% ao ano, menor patamar histórico da taxa. Em outro sinal da crise na região, a Corte Europeia determinou ontem que os países membros têm direito de bloquear o aumento automático de 1,7% nos salários oficiais da UE concedido em 2011.

Os juízes acataram o argumento de que a situação econômica era suficiente para negar os reajustes. Também ontem, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) constatou, em seu estudo semestral, que a desaceleração das grandes economias emergentes, como o Brasil, está afetando a recuperação global. O relatório revisou para baixo as projeções de crescimento mundial em relação à estimativa divulgada em maio — de 3,2% para 2,7% neste ano e de 4,1% para 3,6% em 2014.

BRASIL DEVE CRESCER 2,5%

Para o Brasil, a estimativa é de expansão de 2,5% neste ano, desacelerando para 2,2% no ano que vem e retomando o patamar de 2,5% em 2015. A entidade destaca a necessidade de aperto na política monetária para reduzir a inflação, que vem registrando índices acumulados em 12 meses acima do centro da meta ( de 4,5% com margem de dois pontos para cima ou para baixo), e prevê que o índice fechará o ano em 5,9%, cairá a 5% em 20l4 e irá a 5,1% em 2015.

O estudo aponta a vulnerabilidade dos países emergentes a fugas de capital para os EUA quando o Federal Reserve (Fed, o banco central do país) vier a reduzir suas compras de ativos, hoje em US$ 85 bilhões mensais. E agrega, como ameaças à recuperação global, as incertezas fiscais nos EUA e as políticas dos bancos centrais.

A OCDE prevê que a zona do euro terá retração de 0,4% neste ano, mas projeta uma expansão de 1% em 2014. Para os EUA, as projeções apontam avanço de l,7% em 20l3 e um ganho de fôlego no próximo ano, com alta de 2,9%. Para a China, as previsões são mais otimistas: alta de 7,7% este ano e 8,2% em 2014. — A recuperação é real, mas com baixa velocidade, e pode haver turbulência no horizonte — disse o secretário geral Angel Gurría durante a divulgação do estudo, em Paris.