Exportar já não importa

Exame.com
19.07.2012 - 11h50
Gilson Schwartz


O esfriamento da economia mundial trata de mandar rapidamente às favas alguns ícones da narrativa econômica recente, a começar pelo “BRICS”. A China faz contorções para segurar a atividade econômica e as exportações brasileiras perdem terreno. O volume de exportações brasileiras caiu 13,6% em junho em relação ao ano passado. O volume de importações, que depende do nível de atividade interno, teve queda de 2,4%. Menos exportações numa economia ainda aquecida pelo aumento do crédito e queda dos juros gera um fluxo ainda relevante de importações. Ainda assim, também cadente. O desaquecimento global esfria também os preços das commodities brasileiras. Segundo a CNI, a confiança dos empresários industriais atingiu em julho o menor patamar desde abril de 2009.
O velho bordão “exportar é o que importa” perde validade. A perda de vigor na economia também torna problemático o horizonte de arrecadação de impostos. A combinação dessas tendências (pressão sobre contas públicas num momento de enfraquecimento da capacidade brasileira de gerar superávits no comércio exterior, com juros internos em queda recorde) poderia em tese pressionar a taxa de câmbio, forçando a mais desvalorização do real frente ao dólar nos próximos meses.
Como o consumo interno esfria mas é reanimado ainda que parcialmente por incentivos fiscais e juros baixos, o ciclo é francamente desfavorável à contenção dos índices de inflação. Ou seja, impõe limites à redução dos juros pelo Banco Central.
Essa roda de infortúnios num contexto de dificuldades crônicas nas economias industrializadas promete um segundo semestre emocionante, com malabarismos retóricos como a recente desqualificação do PIB pela presidente Dilma Roussef. Do “pibão” ao “pibinho” e agora ao dar de ombros para o PIB, a trajetória é claramente negativa.


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