Efeitos da greve ainda são limitados

Valor Econômico - 27/07/2012

A greve dos servidores públicos federais tem, até agora, efeitos localizados sobre a população ou setores econômicos. Os alunos das universidades federais - sem aulas há dois meses - são os principais afetados até agora. Além dos estudantes, a paralisação provocou atraso no embarque e desembarque de mercadorias em alguns portos e, ontem, ela impediu a divulgação completa dos dados da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No dia 12 de julho, os representantes sindicais do funcionalismo federal protocolaram, em cada um dos ministérios, um comunicado de greve, informando ao respectivo titular da pasta que a paralisação nacional da categoria começaria no dia 18 e, como previsto em lei, seria garantido um efetivo mínimo de 30% para garantir os serviços essenciais. Não existe um balanço claro de que categorias efetivamente aderiram ao movimento e nem de quantos funcionários estão parados, mas vários segmentos procurados ontem pela reportagem do Valor informaram que ainda não sentiram efeitos práticos negativos decorrentes da paralisação. Existe, contudo, a preocupação de que o movimento se prolongue e aí traga consequências.
Desde ontem, a Anvisa no porto de Santos está emitindo livre-prática para todos os navios. A recomendação partiu da chefia do posto em reunião realizada na quarta-feira, afirmou Sueli Dias Pereira, do comando de greve. Em média, disse ela, a Anvisa autoriza 30 livres-práticas por dia em Santos.
O diretor-executivo do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de São Paulo (Sindamar), José Roque, afirmou que nenhum navio deixou de atracar no porto em razão da greve. Mas os atrasos nas autorizações do órgão sanitário causaram prejuízo de US$ 5 milhões às agências marítimas desde o início da manifestação da Anvisa até terça-feira, estimou Roque. "Estamos conseguindo obter a livre-prática, mas com bastante morosidade. Isso é decorrente do fato de eles [servidores] estarem mantendo menos dos 30% de efetivo que manda a lei. Com o volume de navios em Santos, é humanamente impossível". Sueli nega. Ela afirma que o posto está com mais de 30% do efetivo trabalhando. São dez de 24 profissionais, incluindo o chefe do posto", afirmou.
A greve das agências reguladoras que começou na segunda-feira ainda não afeta os processos de empresas e associações dos setores envolvidos. O assessor da diretoria da Abrace, Fernando Umbria, afirmou que participou ontem de manhã de uma reunião na Aneel e que o órgão funcionava normalmente. "Havia um pequeno grupo fazendo manifestação em frente ao prédio, mas as atividades rotineiras estão mantidas. Não sentimos nenhum efeito", garante.
Já a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) informa que os processos de reajuste tarifário continuam sendo analisados pelo órgão e que não há reflexos da paralisação. No setor de aviação, a greve da Anac ainda não afeta as três maiores companhias aéreas. TAM, Gol e Azul informaram que as operações e processos junto ao órgão correm normalmente.
A greve das agências também não afetou de forma importante a operação das empresas de petróleo no Brasil. Pelo menos até o momento. Na Agência Nacional do Petróleo (ANP), a adesão foi maior em algumas áreas do que outras, mas de modo geral, os servidores se comprometeram a não atrasar a análise de documentos ou decisões que exigem prazo, por exemplo. Executivo de uma companhia ouvida pelo Valor se disse preocupado com a greve da Anvisa, que no Espírito Santo estava atrasando as vistorias em barcos de apoio que levam alimentos para plataformas no mar. Ele também se mostrou apreensivo com a possibilidade de os funcionários da Receita Federal entrarem em greve a partir do dia 1º de agosto.
A maior afetada pelas greves pode ser a Petrobras, maior operadora do país. A estatal informou que até o momento as greves não tiveram repercussão sobre suas operações, mas a empresa admite que se a da ANP continuar na próxima semana pode atrapalhar a rotina de trabalho. Isso porque as diversas auditorias feitas pela agência programadas para esta semana foram suspensas.
O Ministério da Educação (MEC) informou que cabe a cada instituição federal de ensino superior fazer balanço dos impactos da greve. Segundo a pasta, a estimativa de alunos afetados pode ser feita a partir dos dados de matrículas do Censo da Educação Superior. Considerando que o sistema federal de universidades têm pouco mais de 1 milhão de estudantes e que 57 das 59 instituições aderiram à greve e estudantes de pelo menos 40 unidades também estão no movimento grevista, o Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes) fala em mais de 500 mil alunos sem aulas e atividades de pesquisa.

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