Tarifas mais caras do mundo são principal problema das fábricas

Valor Econômico - 20/07/2012
Por Paulo Vasconcellos | Para o Valor, do Rio


O preço da tarifa média industrial brasileira precisaria cair pelo menos 57% para restabelecer a equivalência de valores entre Brasil e Estados Unidos e tornar o país competitivo mundialmente. É o que aponta um estudo que acaba de ser finalizado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). O trabalho calculou que o fim dos encargos reduziria em 14% a tarifa e seria insuficiente para a competitividade industrial do Brasil.

Outra pesquisa da Firjan, divulgada no ano passado, apontou que a tarifa industrial brasileira é de R$ 329 por megawatt/hora (Mwh). O valor é 53% superior à média de R$ 215,5 Mwh de 27 países e 131% superior aos R$ 142,2 Mwh dos quatro maiores parceiros comerciais do país: Estados Unidos, Alemanha, China e Argentina. Os encargos são formados pela Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), Reserva Global de Reversão (RGR) e Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Mais da metade da tarifa está ligada a custos de geração, transmissão e distribuição.

"O desafio não está só em reduzir o consumo de energia, mas fazer uma gestão melhor dos recursos. Não basta apenas atacar a questão do preço, é preciso garantir também qualidade no fornecimento, com menos oscilações e perdas", diz Tatiana Lauria, especialista de competitividade industrial e investimentos da Firjan.

A tarifa média de energia para a indústria no Brasil, que em setores como o de tecidos representa 12% dos custos de produção e pode chegar a 70% numa refinaria, é 134% maior do que nos outros países dos Brics, de acordo com o estudo "Quanto custa a energia elétrica para a indústria no Brasil?", da Firjan. O preço médio da energia para as indústrias de China, Índia e Rússia é de R$ 140,7 Mwh.

"Não é surpresa que a energia no Brasil seja a maior do mundo com impacto na competitividade da indústria. O governo federal reconhece isso e está fazendo estudo para alterar a fórmula das tarifas", afirma Monica Messenberg, diretora de Relações Institucionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Uma pesquisa da entidade já havia apontado que, embora o setor responda por mais de 40% de toda energia consumida no Brasil, não existe uma política governamental de longo prazo específica para o uso eficiente da energia na indústria.

O movimento da indústria em busca da eficiência energética apresenta resultados positivos, mas que precisam ser replicados. O Programa de Eficiência Energética Industrial (Procel Indústria) do governo federal já aprovou 69 diagnósticos energéticos com uma economia anual estimada de 37 Gwh e um tempo de retorno de investimento médio de 14 meses para as indústrias. Também foram capacitados 3.113 engenheiros e técnicos de 690 indústrias, publicados 24 guias e 28 estudos e implantados 14 laboratórios de Otimização de Sistemas Motrizes Industriais em universidades. Nas micro e pequenas empresas foram estruturados núcleos de serviços de eficiência energética e realizados 13 diagnósticos energéticos setoriais.

"Estima-se que os verdadeiros impactos do programa sejam bem maiores considerando a insuficiência de informação estruturada e a sensibilização das indústrias", afirma Marco Aurélio Moreira, gerente da Divisão de Eficiência Energética na Indústria e Comércio do Procel Indústria.

A indústria de cimento cada vez mais utiliza resíduos industriais e domésticos como fonte alternativa de combustível no processo de fabricação do produto. A indústria de celulose e papel se aproxima da autossuficiência energética com o uso de fontes renováveis e alternativas como a biomassa. E as usinas de cana-de-açúcar se encaminhavam para a autossuficiência energética a partir do bagaço antes da crise financeira internacional.

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