Entrevista - Rubens Ricupero
O Estado de S. Paulo - 05/09/2012
R.L.
O aumento de tarifas de importação promovido pelo governo é uma medida paliativa, que não resolve o problema da indústria. A avaliação é do ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero.
Essa medida vai contra as regras internacionais?
Não. É uma medida legal, porque obedece o nível de tarifas consolidado na OMC, mas é um retrocesso dentro do ideal de liberalização do comércio.
O mundo está crise. Nesse contexto, a medida se justifica?
Em momentos de crise é que se busca não desencadear uma onda de protecionismo. Se todos os países resolverem fazer a mesma coisa, vai se tornar uma profecia que se autorrealiza. Foi o que ocorreu na década de 30, quando vários países subiram tarifas de importação.
O impacto é ruim para a imagem do Brasil?
Não vai ser positivo. É uma medida protecionista. Se for provisória, dentro de um programa de recuperação da indústria, é até tolerável. O problema é saber se existe um programa com credibilidade de reconquista da competitividade da indústria.
Qual é a eficácia econômica da medida?
Medidas de elevação de tarifa correspondem, na área de comércio exterior, ao que são esses paliativos de redução do IPI internamente. Não vão ao fundo do problema. Temos visto que o socorro à indústria tem se concentrado em medidas desse tipo.
Mas o governo tem anunciado algumas medidas estruturantes.
Sim, a queda dos juros para facilitar a retomada do investimento e a desvalorização do câmbio. Está correto e faz parte do caminho para recuperar a competitividade.
Qual é o impacto da medida para o Mercosul?
O bloco hoje já é um outro animal. É uma coleção de reservas de mercado. Não só aceitamos o protecionismo da Argentina, como também praticamos.
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