Vimos um impacto maior da crise global e efeito mais lento das medidas de Dilma

Folha de S. Paulo - 28/09/2012
Economista cuja previsão foi chamada de piada diz o que o governo demorou para perceber e afirma continuar otimista


De Londres, onde está a trabalho, o economista-chefe do Credit Suisse, Nilson Teixeira, cuja previsão foi chamada de "piada" em junho pelo ministro Guido Mantega (Fazenda), deu entrevista à Folha por e-mail:

Folha - o que o sr. viu há alguns meses, para chegar à sua previsão, que o governo demorou para perceber?

Nilson Teixeira - Desde o terceiro trimestre de 2011, projetávamos um baixo crescimento por alguns trimestres, em parte, pelo impacto do cenário global adverso, em particular sobre os investimentos. Ao mesmo tempo, esperávamos que o desempenho da indústria continuaria desfavorável, em razão da forte concorrência dos importados, da desaceleração das vendas de caminhões e da menores exportações para a Argentina.

A principal diferença foi, portanto, a nossa expectativa de que a retração na indústria e nos investimentos seria mais prolongada, estendendo-se até meados deste ano.

Esperávamos que a redução dos juros e a redução de impostos tivessem efeitos reduzidos no curto prazo.

Em agosto, o sr. expressou em entrevista uma perspectiva otimista em relação à retomada. O país, no entanto, parece estar demorando mais que o previsto para se recuperar. O que emperra a retomada? Isso o fez rever suas expectativas?

Continuo com uma avaliação otimista. Não me parece que a retomada esteja demorando muito mais do que prevíamos. A expansão neste terceiro trimestre tende a ser bem maior do que nos últimos quatro trimestres, podendo superar 1% frente o segundo trimestre, em linha com a nossa projeção de crescimento de 1,5% em 2012.

Nossos modelos sugerem que os efeitos defasados do afrouxamento monetário e das demais medidas do governo contribuirão para uma expansão dos investimentos nos próximos trimestres.

A incerteza hoje é sobre quão persistente é e qual a magnitude da recuperação, pois os indicadores recentes sugerem a retomada na indústria ainda muito concentrada no setor de veículos.

O desempenho da economia em setembro e outubro trará uma informação valiosa sobre a recuperação.

Pelas informações disponíveis, o sr. trabalha com que previsão de crescimento para o ano que vem? Por quê?

Prevemos crescimento do PIB de 4% em 2013.

A certeza sobre essa projeção é baixa. Poderemos ver alta de 2%, caso a crise global piore, ou mais de 5%.

Esse largo intervalo demonstra o quão incerta é a perspectiva para a economia global. Nos EUA, a incerteza é sobre a complexa situação fiscal. Na Europa, envolve questões sociais e fiscais bem amplas. Na China, é difícil ter certeza sobre o ritmo da economia com mudança de governo e dificuldade de alterar o padrão de crescimento para um modelo menos dependente de investimentos.

Além disso, uma safra agrícola muito maior pode contribuir para maior aceleração da atividade em 2013.

Projeções para o PIB no país ainda estão sujeitas a muitos e variados riscos.

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