México já se beneficia de custo maior na China

Autor(es): Por David Luhnow e Bob Davis | The Wall Street Journal, da Cidade do México e Pequim
Valor Econômico - 17/09/2012

O aumento dos salários e a desaceleração do crescimento na China representam uma chance para o México recuperar diversos negócios que fugiram atrás da mão de obra barata do outro lado do Pacífico na década passada, quando os salários chineses eram, em média, um quarto dos salários mexicanos.
O México já pode ser um lugar mais barato para se fabricar uma série de produtos para o mercado americano, segundo o Boston Consulting Group, que estima que o salário industrial médio da China superou o do México este ano, considerando as diferenças de produtividade. O trabalhador mexicano típico produz mais por hora do que o chinês, e a proximidade com os EUA significa que as empresas americanas podem enviar as mercadorias aos seus clientes americanos mais depressa, e com frequência a um custo menor.
No ano passado a Viasystems Group, fabricante de armários industriais sediada em Saint Louis, no Estado de Missouri, trouxe de volta para o México parte da sua produção na China. "Nossos clientes levaram alguns anos para reagir ao aumento dos custos na China. Mas agora eles estão muito mais interessados em fabricar aqui", disse Homero Galindo, chefe da Viasystems no México.
A China continua mantendo enormes vantagens, inclusive um bilhão de consumidores. Com o aumento dos salários no país, os chineses terão mais dinheiro para gastar consumindo produtos, e não simplesmente fabricando produtos para o resto do mundo.
Poucos esperam um retorno em massa da produção para o México. A guerra contra as drogas afugenta os novos negócios, e o país não criou uma força de trabalho qualificada, nem uma cadeia de fornecimento de peças que represente um desafio sério ao predomínio chinês na produção industrial.
Mas à medida que os salários chineses continuam subindo, o México parece o país em melhor posição para se beneficiar. O México é o lugar mais barato fora dos EUA para se fabricar para o mercado americano, segundo um levantamento de dezembro de 2011 feito pela empresa de consultoria Alix Partners.
As fábricas mexicanas ao longo da fronteira com os EUA podem abastecer o mercado americano mais rápido que as asiáticas, em especial quando se trata de produtos que dependem de projeto personalizado ou do capricho da moda.
O cliente que compra um computador da Dell em uma grande loja leva para casa um produto fabricado pela Foxconn na China. Mas, se o cliente entrar no site da empresa, ele pode personalizar sua compra - digamos, acrescentando mais memória ou uma capa cor de rosa. Esses computadores são montados e despachados em uma vasta fábrica da Foxconn perto de Ciudad Juárez, que chega a produzir 35 mil laptops e computadores de mesa diariamente.
"Podemos ter um caminhão carregado no lado americano da fronteira dentro de poucas horas", disse Francisco Uranga, chefe de desenvolvimento de negócios para o México da Foxconn.
O México também é atraente para produtos volumosos ou caros de transportar. A produção mexicana de automóveis atingiu nível recorde e várias montadoras não americanas, incluindo a Nissan e a Volkswagen, planejam abrir fábricas multibilionárias no país.
Um retorno dos negócios para o México também beneficiaria os EUA. As empresas americanas ganham 37 centavos em cada dólar exportado pelo México, porque as empresas mexicanas dependem muito de componentes fabricados nos EUA. A proporção é muito menor nas empresas chinesas, que utilizam sobretudo insumos produzidos localmente. Além disso, a oferta de mais empregos ao sul da fronteira reduz o incentivo para a imigração ilegal de mexicanos para os EUA.
Na década passada, nenhum país foi tão prejudicado pela ascensão da China como o México. O país foi o pioneiro dos mercados emergentes desde a assinatura de um acordo de livre comércio com os EUA e o Canadá, que entrou em vigor em 1994. De início, o México recebeu um estímulo com o pacto. Mas muitas empresas que se estabeleceram no país depois foram para a China, onde os salários baixíssimos mais que compensavam as vantagens tarifárias do México.
A China hoje exporta cerca de US$ 1,9 trilhão anual em mercadorias para o mundo todo, cerca de cinco vezes mais que o México em termos de dólares. Há dez anos, a China exportava mais ou menos o dobro do México. Desde então, o salário médio em toda a China subiu de US$ 0,60 por hora, em 2000, para US$ 2,50 por hora, incluindo benefícios, segundo a Flextronics International, fabricante de eletrônicos sediada em Cingapura, que tem 40 mil trabalhadores no México e 100 mil na China. O salário médio no México, incluindo benefícios, é de cerca de US$ 3,50 por hora, disse a empresa. Nos próximos anos, segundo a Flextronics, os salários chineses provavelmente vão ultrapassar os mexicanos.
O objetivo das autoridades chinesas é aumentar os salários, mesmo que isso signifique ceder para outros países o papel de produtor mais barato - juntamente com seus empregos de menor remuneração. Para as empresas, o lado positivo do aumento dos salários na China é que os consumidores chineses estão mais ricos. "Pode ser um pouco mais caro produzir na China paraexportação, mas também significa contar com uma base de consumidores em ascensão", disse Mike McNamara, diretor-presidente da Flextronics. "Então, se você também vende para a China, pode fazer sentido produzir apenas lá, em vez de dividir as operações em locais diferentes."
"Se você considerar a moeda, o aumento dos salários e outros impostos na China - tudo isso gera dificuldades relativamente fortes", disse Bill Muir, diretor-executivo de produção na Jabil Circuit, fabricante de eletrônicos da Flórida. Há alguns anos, fabricar máquinas de lavar no México só valia a pena se o fabricante esperasse que 30% a 40% das máquinas precisariam de entrega expressa. Mas agora esse número pode ser de até 10% para que seja vantajoso escolher o México, disse Muir.
O principal fator que prejudica o México, disse ele, é a violência. Estima-se que 16 mil pessoas morreram em homicídios relacionados com drogas no ano passado, e mais de 50 mil nos últimos cinco anos. De acordo com um relatório das Nações Unidas de 2011, a taxa de homicídios do México foi de 18,1 pessoas por 100 mil habitantes em 2010, em comparação com cerca de 5 nos EUA e 1,1 na China.
"É uma ironia trágica, porque o México melhorou sua competitividade justamente nos últimos cinco anos", disse Muir. "E esse também foi um período em que a situação de segurança do México realmente se deteriorou."

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