Protecionismo infla em R$ 2,6 bi valor de empresas

O Estado de S. Paulo - 06/09/2012
Empresas beneficiadas por elevação do imposto de importação lideraram alta na bolsa, enquanto clientes do setor químico questionam medida
LUIZ GUILHERME GERBELLI, RAQUEL LANDIM, RENÉE PEREIRA e ANDRÉ MAGNABOSCO

As empresas dos setores beneficiados pelo aumento do Imposto de Importação tiveram crescimento expressivo em valor de mercado ontem, um dia depois de o governo anunciar novas alíquotas para 100 produtos. Já o cenário para os setores dependentes de insumos é de preocupação pelo temor de um aumento no preço final dos produtos.

Ontem, o maior ganho em valor de mercado foi da Usiminas, de R$ 1,164 bilhão, segundo a Economática. A CSN teve aumento de R$ 1,137 bilhão, seguida da Braskem (R$ 396 milhões).

O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, diz que o aumento do imposto de importação poderá ter impacto negativo nos preços finais de vários produtos, incluindo aqueles que estão na cesta básica do brasileiro. Ele avalia que o aumento da alíquota de importação para resinas será um tiro no pé. Segundo Roriz Coelho, ao adotar essa medida, o governo também vai incentivar a importação de produtos acabados, em vez da matéria-prima. Além disso, pode ter efeitos devastadores na indústria de transformação, que vive um dos piores momentos. No primeiro semestre deste ano, a produção caiu 6,37% em relação a igual período de 201

Na avaliação do vice-presidente da área de polímeros da Braskem, Luciano Guidolin, o aumento da alíquota deve implicar em melhora nas vendas das empresas brasileiras e não em repasse de preços. "O objetivo da medida é aumentar a venda da indústria nacional e, inclusive, o próprio governo colocou que é essa a expectativa que ele tem."

Um dos produtos completados pelo aumento da alíquota do imposto foi o polietileno. Segundo a Guidolin, em 2006, foram importados 148 mil toneladas do produto. No ano passado, a compra aumentou para 780 mil toneladas. "Essa decisão visa a permitir que a indústria petroquímica nacional possa ter uma parcela maior no mercado brasileiro", afirma.

A inclusão de polietilenos (PE) na lista pegou de surpresa executivos da área de transformação plástica, que necessitam da resina para produzir peças plásticas acabadas. Apesar de estar em contato com o governo e de também ter indicado alguns produtos para a lista, o setor não esperava medidas que estimulassem uma área onde há monopólio no Brasil. "Precisamos tentar entender a razão dessa decisão e acompanhar de perto juntamente com o governo para que não haja nenhuma distorção no mercado", afirma o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), Alfredo Schmitt.

A declaração se baseia na afirmação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o governo vai monitorar os preços praticados no mercado doméstico. Uma eventual elevação de valores pode ser "punida" com a revogação da decisão de elevar o imposto de importação. "As entidades do setor precisarão cobrar a manutenção da política comercial que vinha sendo realizada", complementou Schmitt.

Do setor químico, foram enviados 33 pleitos, e 19 foram contemplados pela medida do governo. No primeiro semestre, segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o déficit do setor foi de US$ 11,9 bilhões.

Automotivo. Um dos principais prejudicados pelos aumentos de alíquotas de importação, que atingiram insumos importantes como aço e pneus, o setor automotivo preferiu não se pronunciar oficialmente. Segundo uma fonte de uma grande montadora, dificilmente haverá uma "reação pesada" contra a medida, pois o setor foi beneficiado recentemente pelo aumento do IPI para carros importados. As montadoras, no entanto, diz a fonte, devem se manter vigilantes aos preços e prometem denunciar abusos ao governo.

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