Artilharia do BC segura dólar

Data: 13/04/2016
O GLOBO - RJ
ANA PAULA RIBEIRO

-SÃO PAULO E BRASÍLIA- A forte queda do dólar nos últimos dias - reagindo ao cenário externo e à expectativa, cada vez maior no mercado financeiro, de que a presidente Dilma Rousseff sofrerá impeachment - levou o Banco Central a atuar de forma agressiva no mercado de câmbio ontem. Ao longo do pregão, o BC realizou cinco leilões, num total de US$ 8 bilhões, em operações de swap cambial reverso, que equivalem à compra de dólares no mercado futuro. Com isso, o dólar comercial fechou praticamente estável, em leve queda de 0,02%, mas ainda abaixo de R$ 3,50, cotado a R$ 3,494 para venda. E, após o fechamento do mercado, o BC anunciou ontem à noite um novo leilão de swap reverso, com US$ 2 bilhões em contratos, que será realizado hoje.

Ao todo, foram 160 mil contratos de swap oferecidos ao mercado - na maior atuação deste tipo desde 2005, quando os swaps foram usados pela primeira vez. A percepção de que a mudança de governo se concretizará em breve levou a um desmonte de posições dos agentes dos mercados financeiros, que antes apostavam no dólar acima de R$ 4. E, no exterior, a moeda americana também recuou, com a expectativa de uma alta menor dos juros nos EUA e com a recuperação do preço do petróleo, que ontem subiu 4,34% para US$ 44,69 no barril no tipo brent. Com isso, nem toda a munição do BC evitou a leve queda do dólar ontem.

No mercado de ações, embalada pelo cenário político, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou ontem em alta de 3,66%, aos 52.001 pontos, a maior pontuação em nove meses.

QUEDA DO DÓLAR REDUZIRIA EXPORTAÇÕES Analistas avaliam que o BC está aproveitando a tendência de queda do dólar para reduzir sua exposição ao câmbio. Os leilões de swap reverso na prática diminuem a posição do BC em outros contratos cambiais que, no passado, deram prejuízo às contas públicas. Com isso, em pouco mais de 20 dias, o estoque de contratos de câmbio em poder do mercado foi reduzido em US$ 16,34 bilhões.

- É um movimento muito saudável por parte do Banco Central, porque essa posição já rendeu prejuízos às contas públicas. Em tempos de crise fiscal, qualquer coisa que você faça para melhorar a situação é bem vista - explicou Cleber Alessie, operador da corretora H.Commcor.

A estratégia de reduzir a exposição do BC no câmbio começou a ganhar força em 21 de março, quando os leilões de swap reverso foram retomados, depois de três anos. Desde então, foram ofertados um total de US$ 13,175 bilhões. No mesmo período, a autoridade monetária também deixou de renovar US$ 3,165 bilhões de swaps tradicionais, que equivalem a uma venda de moeda no mercado futuro.

O economista Sílvio Campos Neto, da Tendências, vê como passo importante a redução de exposidade ção do BC. Com um estoque menor de swaps tradicionais, menor será a despesa financeira da autoridade para lidar com uma eventual alta do dólar. A exposição cambial do BC nos contratos de swap tracionais geraram resultado negativo de R$ 102,6 bilhões em 2015, com impacto direto na dívida bruta da União. Este ano, o BC já registrou ganhos de R$ 44,09 bilhões, graças à queda do dólar a partir de março e à nova estratégia de redução da exposição.

- Se o dólar voltar a subir, o custo para as contas públicas será mais brando. Acredito que o custo fiscal está por trás dessa atuação do BC, assim como a intenção de evitar uma queda ainda maior da cotação do dólar - disse.

SAÍDA PARA EMPRESAS EXPOSTAS AO CÂMBIO Além da questão fiscal, frear a queda abrupta do dólar é uma maneira de manter o ajuste nas contas externas, beneficiadas pelo aumento das exportações e pela queda das importações.

- Não é desejado uma queda tão forte do dólar no momento em que o país reconquista mercados externos - completou Santos.

Indiretamente, o BC está ajudando bancos e empresas que tenham posições elevadas em contratos que apostavam na alta do dólar. Como a tendência se inverteu, eles podem estar com dificulde achar uma contraparte (alguém que assuma esse risco) para zerar essas posições.

- Pode ser uma saída para que empresas expostas ao dólar realizem hedge (proteção cambial). Se o mercado está vendedor (esperando queda da cotação), a empresa precisa de uma contraparte. O BC tem de dar uma ponta de saída - disse Ítalo Abucater, gerente de câmbio Icap do Brasil.

Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, lembra que esse desmonte de posições ajudou a derrubar o dólar nos últimos pregões. E que a tendência de queda do dólar só seria revertida caso o governo consiga uma vitória na votação em plenário do pedido de impeachment da presidente Dilma na Câmara dos Deputados.

A equipe econômica avalia que a queda do dólar já era um movimento esperado diante da perspectiva de afastamento da presidente Dilma. Segundo técnicos do governo, no entanto, não há muito a fazer além das intervenções do BC. Os técnicos afirmam que a autoridade monetária atua para evitar flutuações bruscas nas taxas.

"É um movimento muito saudável por parte do Banco Central, porque essa posição (de 'swap' cambial) já rendeu prejuízos às contas públicas. Em tempos de crise fiscal, qualquer coisa que você faça para melhorar a situação é bem vista" Cleber Alessie Operador da corretora H.Commcor


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