BC faz leilões de US$ 4 bi, mas não evita queda do dólar


Data: 14/04/2016
O GLOBO - RJ
ANA PAULA RIBEIRO

-SÃO PAULO- Em mais um dia de artilharia pesada do Banco Central (BC) no mercado de câmbio, o dólar voltou a fechar em baixa, com desvalorização de 0,48%, a R$ 3,477. Na avaliação de especialistas do mercado, a autoridade monetária tem sinalizado que não deseja ver o dólar abaixo de R$ 3,50. Ao longo do pregão, o BC fez leilões que ultrapassaram os US$ 4 bilhões. Apesar disso, a expectativa de uma mudança no governo tem levado investidores a se desfazer da moeda, com a interpretação de que a alteração proporcionaria uma melhora na economia. No mercado de ações, o cenário que se desenha para a votação do impeachment e o maior otimismo no exterior fizeram a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechar em alta de 2,21%, aos 53.149 pontos, o maior patamar desde 14 de julho do ano passado.

Ao longo do dia, o BC fez cinco leilões (dois durante a manhã e três à tarde), nos quais colocou no mercado US$ 4,25 bilhões em contratos de swap cambial reverso (operação equivalente à compra de dólar no mercado futuro). A estratégia teve êxito na primeira parte do pregão, quando a moeda americana chegou a R$ 3,564. Mas a divisa perdeu força depois que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) oficializou o processo de votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff no domingo.

- O mercado acredita fortemente que vai ter uma troca de governo. Há a possibilidade de ter novos nomes de credibilidade maior na equipe econômica. Isso é bem recebido, então o dólar cai - afirmou Jefferson Luiz Rugik, diretor da Correparti Corretora de Câmbio, ao explicar a queda de braço entre BC e mercado. QUEDA DE BRAÇO NO MERCADO FUTURO A disputa entre mercado e BC concentra-se no mercado futuro, no qual os investidores fazem arbitragem com a expectativa de variação da moeda. Antes da consolidação do cenário de impeachment, a maior parte dos agentes financeiros apostava num dólar em trajetória de alta. Esses agentes fizeram contratos prevendo cotações mais elevadas. Como a expectativa mudou, eles começaram a se desfazer dessas posições, derrubando as cotações. Além disso, no âmbito global, o dólar perde força nos últimos dias.

Na terça-feira, o BC já havia colocado US$ 8 bilhões em leilões de swap cambial reverso, o que contribui para pressionar a cotação. Na avaliação de investidores, o BC sempre atuará quando a moeda ficar próxima dos R$ 3,50. A leitura é que, abaixo deste patamar, as cotações deixam de ser interessantes para a recuperação das contas externas - quanto mais alto o dólar, mais atraente fica o produto brasileiro no exterior.

- O dólar sobe com a atuação do BC, mas está tendo uma entrada de recursos de estrangeiros. Essa postura mais agressiva do BC leva a entender que, de alguma forma, ele quer criar uma barreira psicológica e tentar segurar a cotação na faixa dos R$ 3,50 - avalia Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.

Outra consequência dessa estratégia do BC é reduzir sua exposição ao estoque de contratos que são corrigidos pela variação cambial - em menos de um mês, essa exposição já foi reduzida para menos de US$ 90 bilhões, ante mais de US$ 108 bilhões existentes na véspera da retomada dos swaps cambiais reversos - que não eram feitos havia três anos.

Segundo dados do BC, o fluxo cambial está positivo em US$ 1,835 bilhão no mês até o dia 8. No ano, porém, o saldo está negativo em US$ 8,527 bilhões, resultado da diferença entre saídas de US$ 17,103 bilhões da chamada conta financeira (que registra as aplicações de estrangeiros em ações, títulos e outros ativos) e uma entrada de US$ 8,576 bilhões na conta comercial.

O dólar no Brasil foi na contramão do mercado externo. O "dollar index", calculado pela Bloomberg, subia 0,88% próximo ao horário de fechamento dos negócios no Brasil. Apesar dessa alta, a tendência é que o dólar não tenha espaço para ganhar muita força no curtíssimo prazo em escala global, uma vez que a elevação dos juros nos Estados Unidos deve ter uma magnitude menor que o esperado. CENÁRIO EXTERNO No mercado de ações, dados favoráveis da balança comercial chinesa, a perspectiva de uma alta de juros menos intensa nos EUA e a recuperação dos preços de commodities (em especial o minério de ferro) contribuíram para o bom humor do mercado.

A alta da Bolsa foi sustentada pelo desempenho das ações de empresas ligadas ao setor de commodities. Os papéis preferenciais (sem voto) da Petrobras subiram 5,31%, a R$ 9,49. As ações ordinárias (com voto) avançaram 4,22%, a R$ 11,83. No caso da Vale, as preferenciais subiram 4,22%. A valorização é resultado da alta do preço do minério de ferro na China, que voltou a ser negociado acima dos US$ 60.

Nos Estados Unidos, o Dow Jones subiu 1,06% e o S&P 500 teve alta de 1%. Na Europa, o DAX, de Frankfurt, registrou ganhos de 2,71%, e o CAC 40, da Bolsa de Paris, subiu 3,32%.

"O mercado acredita que vai ter uma troca de governo. Há possibilidade de ter novos nomes na equipe econômica"

Jefferson Luiz Rugik
Diretor da Correparti Corretora




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário, muito obrigado pela sua visita!