BC para de atuar no futuro de câmbio

Valor Econômico

Mercados: Desde julho, posições com swaps de dólar estão neutras; Torós diz que voltará quando necessário


Cristiane Perini Lucchesi, de São Paulo
12/08/2009

Pela primeira vez no governo Lula o Banco Central desmontou completamente suas posições no mercado futuro de câmbio. Não está comprado nem vendido. Está neutro, com exposição zero em derivativos. O mercado passou a se perguntar qual a razão para o BC ter deixado de atuar com swaps cambiais desde o dia 1º de julho em um momento de valorização no câmbio e de pressões políticas dos descontentes.

Os bancos começaram a se indagar se o BC teria mudado sua estratégia de intervenção após o susto com os derivativos das empresas brasileiras no ano passado e resolvido que agora compras de dólar só se justificam no mercado à vista. O BC comprou em maio, junho e julho US$ 8,159 bilhões no "spot".

Questionado, o diretor de política monetária do BC, Mario Torós, confirmou que a autoridade monetária zerou suas posições com os swaps cambiais. "Saímos do mercado futuro, mas isso não quer dizer que não voltaremos a qualquer momento", alerta. Segundo Torós, o BC não tem nada contra o uso de derivativos cambiais de forma transparente e não mudou sua forma de intervenção no mercado.

Tanto o swap cambial - por meio do qual o BC assume posições vendidas em dólar e cupom cambial (os juros em dólar no Brasil) no mercado futuro - quanto o swap cambial reverso - posições compradas em dólar e cupom - são instrumentos úteis para o país, argumenta Torós. "Costumamos pautar nossa atuação pela natureza do fluxo cambial e não consideramos que o uso desses contratos seja necessário neste momento", afirma.

A lógica do BC é acumular reservas e reduzir a volatilidade no câmbio, considera Roberto Padovani, estrategista do WestLB. Se o BC atuasse com swaps mesmo com as pressões de valorização do real vindas do fluxo à vista poderia distorcer o mercado, criando anomalias no cupom cambial e na diferença entre o dólar à vista e futuro, acredita.

Neste momento, as pressões de valorização do real vêm principalmente do mercado "spot" e não do futuro. Foram cerca de US$ 7 bilhões de ingresso líquido em abril, maio, junho e julho. No ano, o ingresso de dólar no mercado à vista foi de US$ 3,935 bilhões e o grosso das saídas líquidas foram ainda em janeiro, de US$ 3 bilhões. O BC comprou US$ 4,7 bilhões de janeiro a julho no "spot", engrossando as reservas internacionais.

Mais recentemente, em junho e julho, foi precisamente o segmento financeiro do mercado à vista que garantiu o fluxo de dólares para o país, com o maior volume de captações externas de empresas e demanda por ações na BM&FBovespa, além do investimento externo direto crescente. Os números do balanço de pagamentos mostram que até junho o investidor externo veio comprar US$ 3,03 bilhões em ações em termos líquidos e outro US$ 1,086 bilhão em títulos de renda fixa no Brasil. O investimento externo direto chegou a US$ 14,482 bilhões no primeiro semestre em termos líquidos.

No mercado futuro, por sua vez, não há um volume significativo de posições dos investidores estrangeiros montada apostando na valorização do real. Na verdade até o final de julho os estrangeiros estavam ainda vendidos em reais e comprados em dólar em US$ 896 milhões. Essas posições do investidor externo institucional passaram a US$ 1 bilhão vendidas em dólar e cupom no dia 10 e não têm mostrado tendência definida de alta. Para comparação, antes da crise de crédito internacional, essas posições vendidas em dólar dos estrangeiros na BM&FBovespa, considerando-se o dólar futuro e o DDI (cupom cambial), chegaram ao recorde de US$ 14 bilhões atingido em março de 2008.

Foi também em 2008 que as empresas brasileiras, cientes disso ou não, assumiram o maior volume de posições vendidas em dólar da história. Em junho de 2008, por sua vez, o BC atingiu o máximo de posição comprada em dólar por meio dos swaps cambiais reversos, de US$ 23,38 bilhões, o que representou 11,8% das reservas internacionais no conceito de liquidez internacional.

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