O Estado de S. Paulo - 12/12/2011
Cristina Kirchner anunciou a criação de uma "supersecretaria" de comércio exterior em seu discurso de posse do segundo mandato presidencial. A entidade servirá para reforçar o protecionismo comercial que a Argentina aplicou nos últimos anos contra a entrada de produtos estrangeiros, especialmente os brasileiros, e ficará sob o comando de Guillermo Moreno, ex-secretário de comércio interior e uma das figuras mais polêmicas do governo Kirchner.
A nova secretaria concentrará atribuições antes espalhadas pelos ministérios da Agricultura, Relações Exteriores e Indústria, além da chancelaria argentina. Moreno deverá controlar as licenças não automáticas. A meta do governo é reduzir em 2012 o déficit comercial que a Argentina tem com o Brasil, que ultrapassará US$ 5,5 bilhões em 2011.
Moreno é um velho conhecido dos exportadores brasileiros: no início do ano passado, no posto de secretário de comércio interior, foi o autor das ordens verbais que impediram a entrada de alimentos não frescos que concorriam com similares argentinos. Ele só liberou a venda de ovos de Páscoa, por exemplo, após a Semana Santa.
Analistas políticos e o empresariado consideram Moreno como o homem que faz o "trabalhos sujo" do governo. Ele é apelidado de Highlander, em alusão ao filme cujo protagonista é um homem imortal, que sobrevive ao longo do tempo.
O ex-secretário passou incólume a todas as reformas ministeriais realizadas pela presidente e seu marido e antecessor, Nestor Kirchner. Ele sobreviveu inclusive à queda de vários ministros da Economia que tentaram limitar sua influência. Foi o responsável pela manipulação de índices da inflação, pobreza, desemprego e PIB realizada pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), organismo sob forte intervenção do governo.
Além disso, Moreno - que usa vocabulário baixo calão e alusões sexuais - não hesita em telefonar durante a madrugada a empresários para exigir o congelamento de preços. Ele também é famoso por receber pessoas em seu escritório com um revólver sobre a mesa. / ARIEL PALÁCIOS
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