Perspectiva piora para o comércio internacional

Autor(es): Assis Moreira | De Genebra
Valor Econômico - 23/12/2011

As perspectivas para o comércio mundial em 2012 são "bem mais preocupantes" do que se previa até pouco tempo atrás, alerta Guillermo Valles, diretor de Comércio Internacional e Commodities da Agência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad).

Maior deterioração econômica, alta volatilidade nas taxas de câmbio, risco de queda nos preços de commodities, desaceleração nas economias emergentes e crescentes pressões protecionistas globalmente tendem a afetar mais o fluxo de comércio nos próximos trimestres, conforme o diretor da agência da ONU.

Diferentes organizações internacionais projetavam expansão de 5% nas exportações e importações para o ano que vem. Só que isso era baseado em crescimento econômico global de 4%. Agora, todas as estimativas estão sujeitas a revisão para baixo.

A expectativa entre analistas é que a zona do euro está mais debilitada e reduzirá importações. A recuperação nos EUA continuará frágil no curto prazo, até melhorar no segundo trimestre. E o Japão só volta a ter melhor expansão econômica em 2013.

Essa situação se reflete nos dados divulgados nesta semana pelo CPB, centro de pesquisa econômica da Holanda: o comércio mundial declinou 1% em volume (isto é, em termos reais) em outubro, em relação a setembro, quando já tinha caído 1,1%.

Ontem, em relatório, a Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata) afirma que o negócio de carga aérea continuou em declínio no último trimestre de 2011. Em outubro, caiu 3,8%. Embora os lucros até agora não tenham sido muito ruins, a perspectiva é pessimista. Já o custo do transporte marítimo de produtos chineses para a Europa subiu pela primeira vez nos últimos quatro meses.

Além de contração econômica, Valles nota a queda nos preços de commodities agrícolas no rastro de melhor colheita. Ele ressalva que não é possível ainda falar de uma tendência. Mas o Deutsche Bank projeta para 2012 queda nas cotações de produtos como oleaginosas, trigo, milho, e estabilidade no preço do barril de petróleo, em torno de US$ 115.

Confirmando a preocupação do diretor da Unctad sobre desaceleração nas economias emergentes, a agência de classificação de riscos Fita baixou para 4,9% a projeção de crescimento nos emergentes, comparado a 5,7% que estimava na metade do ano.

Em todo caso, a Fitch calcula que os países que formam o grupo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) continuarão a contribuir com quase metade do crescimento econômico mundial em 2012, a exemplo do que ocorre neste ano. Mas observa os riscos de declínio, diante da severidade da crise da dívida soberana na zona do euro.

Para Valles, a alta volatilidade das taxas de câmbio também poderá ser outra fonte de preocupação no comércio internacional em 2012. "Ninguém pode negar que isso afeta o fluxo de comércio", diz.

Os riscos de protecionismo também são cada vez maiores globalmente, observa Valles. A situação social provocada pelo declínio econômico e desemprego recorde em vários países aumenta ainda mais as pressões políticas por proteção de mercados.

A Unctad aproveitará sua conferência ministerial, que ocorre a cada quatro anos, para tentar aprofundar a cooperação internacional entre os países em desenvolvimento, para melhor saírem da crise atual. A conferência está marcada para abril, no Qatar.

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