Autor(es): Assis Moreira | De Genebra
Valor Econômico - 20/12/2011
O Banco Central Europeu (BCE) vê risco no fato de empresas não financeiras do Brasil terem aumentado rapidamente seu endividamento em moeda estrangeira nos últimos anos e possam não estar bem protegidas contra uma forte desvalorização do real.
Em relatório sobre a estabilidade financeira, o BCE tanto aponta sérios riscos de a crise da zona do euro se propagar a outros países europeus "e mesmo a todo o mundo", como avalia que a região pode ser afetada por ameaças vindas dos Bric - sigla para o bloco de emergentes que reúne Brasil, Rússia, Índia e China.
No documento, o BCE estima que os preços de ativos nos quatro países declinaram em linha com a evolução global, mas que o crédito e o valor dos imóveis nessas nações "crescem muito rapidamente e os preços de ações estão amplificados em comparação com as perspectivas das economias".
O BCE nota que o forte desempenho econômico dos Bric tem sido parcialmente alimentado por elevada expansão do crédito, associado com o "boom" de preços de ativos e de imóveis, o que, em certo momento, elevou temores de aquecimento das economias com potencial de ampliar choques globais e contágio.
A autoridade monetária destaca que o valor de mercado das companhias listadas em bolsa nos Bric cresceu numa taxa mais rápida do que a expansão do total da produção nas últimas décadas. Conforme exemplifica, o valor de mercado de ações desses países era cerca de 10% do PIB no fins do anos 1980, aumentou para mais de 150% este ano, comparado com a média de 120% para o G-7, das economias mais avançadas do mundo. Mas o BCE avalia que os preços de ações dos Bric seguirão em tendência de baixa, até por causa da crise financeira e da desaceleração da economia mundial.
Sobre preços de imóveis, a avaliação é de que foram alimentados pelo acesso "relativamente fácil ao crédito" nos emergentes. E que durante a crise financeira, as taxas de crescimento de ambos (imóveis e crédito) começaram a se normalizar, "mas ainda estão girando próximo do nível de dois dígitos".
Para o BCE, se no curto prazo ocorrer uma correção nos mercados dos Bric, isso poderia ter "implicações adversas também para a zona do euro através dos canais do comércio, confiança e particularmente nos preços de ativos".
No médio prazo, o BCE avalia que os principais riscos para a estabilidade financeira vindos dos emergentes em geral, e dos Bric em particular, continuam relacionados com os níveis e volatilidade dos fluxos de capital e seu impacto na expansão do crédito doméstico.
O banco aponta risco específico de cada país do Bric para a estabilidade financeira, como o endividamento de empresas brasileiras em moeda estrangeira, a queda do preço do petróleo para a Rússia, deterioração econômica nas economias avançadas que afetam as exportações chinesas, enquanto o risco da Índia vem de sua demanda doméstica.
Vitor Constância, vice-presidente do BCE, reconheceu que os riscos para a estabilidade financeira da zona do euro "aumentaram consideravelmente" no segundo semestre de 2011, em meio a incertezas sobre degradação de notas de crédito, temores sobre a saúde financeira dos bancos e a relutância dos políticos.
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