Sobe o custo de linha para comércio exterior

Autor(es): Fernando Travaglini
Valor Econômico - 01/12/2011

A preocupação com a falta de liquidez em dólar continua rondando a tesouraria dos bancos brasileiros. O temor é que se repita o cenário de 2008, quando do Banco Central teve que oferecer crédito em moeda estrangeira para as instituições financeiras. Ninguém sentiu redução acentuada da disponibilidade de linhas internacionais até agora, mas os primeiros sinais de dificuldades começaram a surgir no radar.

O custo de captação para os bancos brasileiros buscarem recursos no interbancário americano e europeu, para financiar o comércio exterior, subiu "expressivamente", segundo fonte ouvida pelo Valor.

A alta se reflete diretamente na taxa cobrada pelos bancos para o adiantamento de contrato de câmbio (ACC), principal modalidade de empréstimos para os exportadores, que também aumentou. Não por acaso, a demanda das companhias recuou, puxando para baixo as concessões de ACC.

A média diária de liberação desses financiamentos caiu cerca de 40% nos últimos dois meses, como mostram dados do Banco Central (BC). Até setembro as liberações superavam US$ 5 bilhões no mês, ritmo que caiu para o patamar próximo a US$ 3 bilhões em outubro e novembro deste ano.

Mas todos os tesoureiros consultados se mostram confiantes de que o BC tem todos os instrumentos e ferramentas para atuar no caso de uma ruptura externa que leve a uma crise de liquidez. Todos se lembram do bom trabalho realizado pela autoridade monetária em 2008, concedendo linhas externas para as instituições e para as empresas.

"Caso a situação se agrave, ele pode fazer leilão de linha", diz uma fonte. E o BC está de fato atento, segundo o relato. "O BC pergunta todo dia como está o custo do ACC", diz essa fonte.

O impacto de uma falta de linha externa não é desprezível. Vale lembrar que o peso do funding externo para os créditos bancários concedidos com recursos livres aqui no Brasil é de quase 20% - mesmo patamar registrado antes da crise de 2008.

Uma ponderação feita por operadores é que o fim de ano sempre apresenta uma oferta menor de linhas internacionais, mas não dá para desprezar o impacto nesse mercado dos problemas enfrentados por bancos internacionais, especialmente europeus, antes bastante atuantes.

Essa preocupação com a liquidez não se estende para o câmbio à vista, que apresenta volume até acima do esperado pelos banqueiros. Mas há um indicador de que muitos já temem um efeito também na oferta de moeda estrangeira. O chamado cupom cambial - diferença entre a taxa de juros interna e externa em dólar - subiu nos últimos dias, indicando um temor tanto com o custo do ACC quanto com a falta de dólar no mercado spot.

A liquidez no mercado futuro também está acima do esperado pelos tesoureiros. Muitos acreditavam que haveria uma seca maior de recursos com a conjunção da piora externa com a taxação do IOF. Mas isso não ocorreu na magnitude que poderia porque os bancos já encontraram uma forma de burlar o imposto.

As instituições têm operado normalmente no mercado futuro de dólar da BM&F, mas todo dia, antes do fechamento, quase todos liquidam as operações, ficando com posição praticamente zerada. Quando isso não é possível, por uma eventual necessidade de cobrir alguma exposição, as tesourarias fecham contratos de balcão no exterior (conhecidos como "off-shore").

É difícil mensurar quanto do mercado foi "exportado" para os balcões no exterior, já que são transações acordadas entre bancos, sem necessariamente passar por alguma bolsa (ao contrário do que ocorre no mercado doméstico). Mas como todos os grandes bancos brasileiros têm subsidiárias lá fora, é bastante trivial transferir os riscos para essas agências.

O mercado de câmbio tenta se ajustar a uma nova realidade, interna e externa, mas o preço do dólar ainda é função, quase exclusivamente, do cenário internacional. Assim, a moeda americana fechou ontem pela quarta vez consecutiva em queda, cotada a R$ 1,813. Desde sexta-feira, o dólar perdeu 4,2% frente o real.

O mercado de juros também operou ontem em função da cena externa, mas na expectativa da decisão do Copom. Depois de um dia bastante movimentado, em que os agentes especularam que o BC poderia até sinalizar um corte mais acentuado a partir de 2012, a autoridade monetária sacramentou um corte de meio ponto e mostrou ao mercado que está no comando da política monetária.

Os investidores que operam os contratos de juros futuros testaram a autoridade em diversas oportunidades, sempre puxando a expectativa para um corte mais acentuado. Mas sempre o presidente do BC, Alexandre Tombini, veio a mercado reafirmar seu cenário, como fez na última quinta-feira. Ao confirmar seus discursos, a comunicação do BC ganhou pontos frente ao mercado, segundo operadores de juros.

Fernando Travaglini é repórter

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