Dólar para em R$ 1,80 à espera da Europa

Autor(es): Fernando Travaglini
Valor Econômico - 08/12/2011

Desde o início do mês o dólar anda de lado. A cotação da moeda está praticamente estacionada no patamar de R$ 1,80 nos últimos cinco pregões, com pequenas oscilações para cima ou para baixo. E caso não surja nenhum fato novo no cenário externo, a expectativa é de que o preço da moeda fique nesse nível pelo menos até o fim do ano, dada a menor liquidez típica dessa época - ontem fechou cotado a R$ 1,791, em queda.

Mas há riscos, ainda que pequenos, de que ocorra uma depreciação, ou seja, de uma alta da cotação do real, ou ainda uma nova rodada de valorização. Enquanto no mercado internacional todos esperam pelas definições do encontro de líderes da União Europeia, que começa amanhã, por aqui os agentes estão de olho em dois fatos que devem mover os negócios nos próximos dias.

O primeiro é o prazo para que os investidores comecem a declarar o IOF para os contratos de derivativos cambiais, previsto para o dia 14 - retroativo a 16 de setembro. Até lá, permanece a especulação em torno da medida, com forte expectativa que a tributação seja novamente adiada ou que a alíquota, hoje em 1%, seja zerada - já que ainda há dúvidas sobre a forma de cálculo do imposto sobre algumas operações mais complexas.

Outra fonte de movimentação nas mesas de bancos e corretoras deve ser a expectativa de um fluxo positivo de dólares para o Brasil na virada do ano. Segundo operadores de mercado, os grandes bancos, que fazem a intermediação desses negócios, já começaram a se mexer, ampliando as compras de derivativos e puxando para baixo o chamado cupom cambial - diferença entre o juro interno e externo em dólar - um sinal de falta de moeda no mercado à vista. De fato, o estoque de dólares em poder dos bancos caiu de US$ 3,7 bilhões, em outubro, para US$ 1 bilhão no fim do mês passado.

Como mostram os dados do Banco Central, a entrada de divisas para o país desacelerou fortemente desde outubro, com saída líquida de US$ 1,2 bilhão desde então. Mesmo o fechamento de câmbio por parte das empresas exportadoras perdeu força e caiu praticamente à metade nos últimos dois meses.

O fluxo de dólares para o país tem algum peso na magnitude de alta ou de baixa da moeda, mas a direção é dada pelos mercados internacionais. O preço da moeda americana no exterior é a principal influência para o real. E por lá, a tendência parece ser a continuidade de um dólar mais forte e um euro ainda enfraquecido, pelo menos no curto prazo.

Segundo análise do Barclays Capital, a ação coordenada dos bancos centrais, na semana passada, que reduziu o custo de captação em dólares, aliada aos dados positivos da economia americana deram certo fôlego para as moedas, comparativamente à divisa americana. O Dollar Index, medida que compara a moeda americana frente a uma cesta de outras seis divisas, caiu nos últimos dias de um pico de 80 pontos para a casa dos 78,5 pontos.

Para os economistas do banco de investimento inglês, no entanto, a percepção de risco dos agentes tem sido um dos principais fatores para a taxa de câmbio, com o encontro dos líderes da União Europeia, que acontece até sexta-feira, sendo o drive mais importante.

A tendência, portanto, caso não haja uma surpresa negativa no encontro europeu, é que a cotação das moedas mexa pouco nos próximos dias, com pouco impacto para o real. Já se o "summit" europeu reverter as expectativas criadas - mais integração fiscal, com sanções para países que não cumprirem certas regras orçamentárias e um fundo de resgate mais robusto - pode ocorrer novo movimento de fuga para a qualidade ("fly to quality"), pressionando a cotação das moedas, especialmente aquelas com forte relação com commodities, como a brasileira.

Nesse caso, lembra Arthur Siqueira Totti, operador da Grau Gestão de Ativos, o euro poderia testar patamares próximos a US$ 1,30 - hoje está na casa de US$ 1,34 - e, consequentemente, o dólar no mercado interno poderia superar a casa de R$ 1,9. Por enquanto, o euro continua depreciado, com grandes apostas em nova rodada de desvalorização. Se antes a moeda comum europeia ganhava força com notícias positivas da região, agora ela só para de cair.

Outra variável que sempre dita o ritmo do real frente outras praças é o preço das commodities, que por sua vez, depende do desempenho da China. O índice CRB até ganhou certa força nos últimos dias, mas ainda está em patamar mais baixo do que no primeiro semestre. Isso indica que o real também deve estar num patamar mais desvalorizado do que o anterior.

Mas a crise não acabou e uma chance de ruptura, apesar de menor, não foi completamente descartada. Num cenário mais catastrófico, a Nomura Securities não descarta que a cotação da moeda americana no mercado brasileiro chegue a R$ 2,40, no cenário limite de uma crise semelhante a de 2008.

Fernando Travaglini é repórter

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário, muito obrigado pela sua visita!