Novo IOF é resposta à injeção do BCE

Valor Econômico - 02/03/2012

Ao estender o IOF de 6% para empréstimos externos de até três anos, ontem, o governo agiu preventivamente em relação à forte liquidez injetada pelo Banco Central Europeu (BCE) na véspera e que tem tudo para intensificar o apetite por ativos de maior risco, brasileiros entre eles. De pouco impacto prático, a medida mandou ao mercado um sinal de que o governo está muito incomodado com a apreciação do real e deixou no ar a impressão de que novas iniciativas podem ser adotadas.

Havia um consenso ontem entre investidores e executivos do mercado financeiro de que a medida de ontem, em si, não vai evitar a alta do real, que está entre as moedas mais valorizadas no ano. No entanto, esse tipo de medida sempre gera ruído para o investidor estrangeiro.

Segundos fontes de bancos, o efeito para as emissões de títulos no exterior é praticamente nulo, já que quase todas as operações hoje são acima desse prazo. Desde de 2010, o volume de títulos e empréstimos sindicalizados no exterior com vencimento inferior a 36 meses somou pouco mais de US$ 11,5 bilhões. Em 2012, foi captado US$ 1,4 bilhão com essas características.

O impacto maior, dizem especialistas, será nos empréstimos diretos feitos com bancos internacionais ou para os empréstimos intercompanhias. Do total da dívida externa brasileira divulgada pelo Banco Central (que foi a US$ 364 bilhões em setembro de 2011), 28% (US$ 102 bilhões) é de empréstimos intercompanhia. A maior parte desse volume, cerca de 40%, vence em até três anos. Mas o volume anda estável.

No mercado de câmbio, nem o IOF sobre captações, nem os leilões de compra do Banco Central surtiram efeito. O dólar comercial fechou o dia com baixa 0,47%, negociado a R$ 1,712 na venda.

A decisão que mirou a valorização do real, no entanto, acabou tendo efeito no mercado de juros futuros, onde as taxas caíram, mostrando aumento na probabilidade de um corte superior a meio ponto percentual na Selic já na reunião do Copom da próxima semana.

A leitura feita por parte do mercado é que o incômodo do governo com o câmbio poderia acelerar a estratégia de corte da Selic para reduzir o diferencial entre juros interno e externo e, assim, diminuir a atratividade de capital especulativo.

"Há uma grande liquidez no mercado internacional. Os países avançados estão emitindo crédito. A única maneira que eles encontram para enfrentar a crise é fazer política monetária expansionista. Estados Unidos, União Europeia e Japão estão todos fazendo políticas expansionistas e nós somos atingidos por isso", afirmou, ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

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