A inflação mais solta

Celso Ming - Celso Ming
Autor(es): Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 23/10/2012


E se a inflação voltar a dar os seus pinotes?
A pergunta não é mera especulação dos aflitos de sempre. As pressões sobre os preços estão aí e o Banco Central vai novamente ser colocado na berlinda, porque vem prometendo a tal convergência para a meta – ainda que "de forma não linear".
O Índice de Preços ao Consumidor – Amplo-15 (IPCA-15) acionou sinais amarelos. Mostrou, em outubro, avanço da inflação de 0,65%, bem acima do 0,48% de setembro. Mais do que isso, indicou aceleração. (Para quem não está habituado com a dança de siglas, esse IPCA-15 é o mesmo IPCA, com a diferença de que reflete os 30 dias de comportamento dos preços no período terminado no dia 15, não no dia 30.)
O Banco Central aponta certos focos de inflação, mas não lhes vem dando importância. Na última Ata do Copom, distribuída quinta-feira, admitia esticada relevante nos preços dos alimentos, mas entendeu que seria rapidamente dissipada, porque se concentrava na alta das principais commodities agrícolas, motivada pela estiagem que atacou os centros produtores dos Estados Unidos.
Mais do que consequência de um choque externo, essa parece uma inflação típica de demanda. Ou seja, é acionada pelo aumento do consumo não acompanhado pelo aumento da oferta. O Banco Central já admitia geradores no maior aumento de despesas do setor público e no avanço dos salários acima da produtividade do trabalho. Mas não contava com uma aceleração, convencido de que a crise externa atuaria a favor da contenção dos preços.
Questão ainda à procura de resposta convincente: se um ano como este, em que o PIB cresce só 1,5%, terá inflação entre 5,5% e 6,0%, o que será de 2013, quando se espera mais do que o dobro de expansão do PIB?
Caso a inflação volte com mais força, cabe perguntar que mecanismos o Banco Central usará para conter a aceleração dos preços, uma vez que a decisão é não aumentar os juros. Apenas para lembrar, a mensagem mais importante que veio da última reunião do Copom é a de que os juros básicos (Selic) permanecerão nos 7,25% ao ano “por um período de tempo suficientemente prolongado”.
Uma opção é retomar os tais mecanismos macroprudenciais que caíram no gosto do governo Dilma e do Banco Central, que a toda hora lembram de seu poder de conter os preços. São decisões cujo principal objetivo é dar mais segurança ao mercado financeiro, mas podem ter efeitos colaterais. Exigência de mais capital dos bancos ou redução do número de prestações nas operações de crédito podem conter o consumo e, por essa via, a inflação. O problema é que também podem desacelerar a atividade econômica.
Outra opção é deixar o câmbio mais solto. A queda das cotações do dólar tenderia a baratear os preços dos importados e, assim, a segurar a inflação. Mas tiraria capacidade de competição da indústria.
O Banco Central tem sido tolerante. Já não faz questão de garantir a inflação na meta dentro do ano-calendário. E é possível que essa tolerância fique ainda mais elástica, digamos assim. Isso mostra que vem assumindo cada vez mais riscos. Qualquer imprevisto pode ser suficiente para deixar a inflação escapar.
Enfraqueceu. Há, sim, certa tendência a piora dos resultados da balança comercial. O grosso da produção agrícola já foi embarcado e chegam produtos que reforçarão as vendas de final de ano. Mas não significa que o déficit comercial, de 422 milhões de dólares na terceira semana de outubro, vá aumentar. Essa tendência será revertida tão logo a nova safra, a ser colhida a partir de fevereiro, comece a ser exportada.

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