Dilma faz nova crítica a 'protecionismo disfarçado' de ricos

O Estado de S. Paulo - 03/10/2012
Presidente se refere a países que fazem grandes injeções de recursos na economia, provocando desvalorização da moeda

LISANDRA PARAGUASSU, ENVIADA ESPECIAL / LIMA - O Estado de S.Paulo


A presidente Dilma Rousseff acusou ontem de "protecionismo disfarçado" os países desenvolvidos que usam a política de "flexibilização quantitativa" - a liberação de recursos para reanimar a economia, que provoca desvalorização da moeda. Foi uma clara resposta ao governo americano, que classificou de protecionistas as medidas brasileiras de aumento do Imposto de Importação de alguns produtos.

Em seu discurso na abertura da 3.ª Cúpula América do Sul - Países Árabes (Aspa), Dilma afirmou que esse tipo de política cria uma competitividade artificial que atinge diretamente os países das duas regiões. "O acesso aos nossos mercados fica extremamente facilitado por essas políticas de desvalorização das moedas, e um protecionismo disfarçado se impõe ao reduzir as importações dos nossos países."

No último dia 20, o representante de Comércio do governo americano, Ron Kirk, enviou uma carta ao ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, declarando ser protecionista a decisão brasileira de elevar o Imposto de Importação de 100 produtos. Kirk, na carta, pede a suspensão do processo, acusa o governo brasileiro de mirar produtos americanos e faz ameaças veladas de retaliação.

A resposta brasileira foi dura. O Itamaraty classificou de descabidas as reclamações americanas e, no mesmo dia, numa resposta também por carta, Patriota afirmou que o Brasil não iria abdicar de usar instrumentos legítimos de defesa comercial e criticou a expansão monetária adotada pelos EUA. Recentemente, o Federal Reserve, banco central americano, anunciou a compra de US$ 40 bilhões em títulos para injetar dinheiro na sua economia, o que leva a uma desvalorização do dólar.

"A forte expansão da base monetária, a política monetária expansionista que se chama de flexibilização quantitativa, ao desvalorizar a moeda de alguns países, faz com que esses países sejam artificialmente mais competitivos. O efeito cumulativo dessas políticas expansionistas, combinadas com uma austeridade exagerada, exporta a crise para o resto do mundo e não resolve os graves problemas dos países desenvolvidos como o desemprego galopante e a falta de esperança", criticou Dilma.

Cooperação. Dilma ainda pediu o fortalecimento da cooperação entre as duas regiões como forma de combater a turbulência causada pela crise. "A persistente crise econômica iniciada nos países mais desenvolvidos tem efeitos que se dispersam por todos os países sem nenhuma exceção nos está trazendo novos desafios. As nações árabes e as nações sul-americanas precisam assegurar que as turbulências da economia internacional não criem obstáculos adicionais ao nosso desenvolvimento."

Com um comércio que cresceu 40% apenas entre 2009 e 2011, as duas regiões têm tentado ampliar a cooperação não apenas comercial, mas também política, apesar das visões bastante diferentes.

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