Há divergências sobre a queda do dólar

O Globo - 15/10/2012


Após comprar a briga da queda de juros, a próxima briga do governo será no câmbio. O dólar está praticamente fixo em R$ 2  quase seis meses, depois de beirar R$ 1,55 em julho do ano passado, e o governo federal dá sinais de que ainda não está satisfeito com o atual patamar. Economistas ouvidos pelo Estado se dividem quando o assunto é a trajetória do real em 2013.
Enquanto para Armínio Fraga e Gustavo Franco, ex-presidentes do Banco Central (BC), a mudança na taxa de câmbio ocorreu devido ao estresse mundial, e, portanto, o real pode voltar a se valorizar quando a situação econômica melhorar, os principais conselheiros da presidente Dilma Rousseff pensam diferente.
Para Antônio Delfim Netto, a mudança no câmbio foi principalmente dirigida pela equipe econômica. A mudança na cotação do dólar corrigiu, segundo ele, um "pecado capital" do próprio governo petista, que permitiu a hipervalorização do real, destruindo a competitividade da indústria nacional. "O câmbio valorizado foi mantido por tempo demais, promovendo um efeito devastador."
Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp e também conselheiro presidencial, avaliam que uma das principais medidas do governo foi intervir diretamente no mercado de câmbio, instituindo a cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre o excesso em posição "vendida" em derivativos cambias - o que representa a aposta em um título que prevê a valorização do real.
"Último peru". "Por conta das elevadas taxas de juros, o Brasil foi durante muito tempo o último peru disponível fora do Dia de Ação de Graças. Todo mundo vinha para cá", diz Delfim Netto. Ele diz que, mesmo na mínima histórica (7,25% ao ano), a taxa básica de juros, a Selic, "ainda é o último peru". Mas pondera: "Estamos terminando a festa".
Para Gustavo Franco, no entanto, acreditar na eficácia do IOF é "uma ilusão". Para ele, o dólar atingiu R$ 2 por conta "de um problema muito sério na Europa, que começou exatamente em agosto do ano passado, curiosamente quando o real passou a se desvalorizar".
A desvalorização do real encarece bens importados, o que pode ter efeito na inflação. Para Fraga, os piores problemas com preços ficaram em 2011. "Não acredito que o BC atual tenha qualquer intenção de abandonar o sistema de metas de inflação, mas  também a percepção de que o BC está mais disposto a correr riscos com a inflação, em busca de auxiliar o governo e elevar o ritmo do crescimento." /J.V.

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