Retração chinesa abala siderúrgicas

Autor(es): CLÁUDIA TREVISAN
O Estado de S. Paulo - 01/10/2012



Dificuldades afetam exportações de minério brasileiro para o país; no início de setembro, matéria-prima atingiu menor preço desde 2009

A indústria siderúrgica da China enfrenta um cenário adverso de queda nas vendas, aumento de estoques e excesso de capacidade de produção, o que reduziu preços e lucros do setor e fez a cotação do minério de ferro exportado pelo Brasil alcançar, no início de setembro, o menor nível desde 2009.
Os preços reagiram nas últimas semanas, mas o cenário é sombrio para as fabricantes de do país, que são as principais compradoras do produto que ocupa o primeiro lugar na pauta de exportação brasileira.
As siderúrgicas veem a demanda por aço se expandir abaixo do esperado, sob o impacto da acentuada desaceleração da segunda maior economia do mundo. Os preços do produto caíram 26% neste ano, desde a cotação máxima registrada em abril, com impacto negativo para o minério de ferro.
Na semana passada, a maior siderúrgica da China anunciou que suspendeu a produção em uma fábrica de placas de aço localizada em Xangai, no mais recente sinal das dificuldades que atingem o setor. Com altos custos e encomendas em declínio, a planta estava operando no vermelho, disse comunicado enviado quarta-feira pela estatal Baosteel à Bolsa de Xangai.
Desde julho, várias siderúrgicas anunciaram suspensões temporárias de produção para se adaptar à menor demanda, entre as quais a Wuhan Steel, a quarta maior fabricante de aço da China.
A desaceleração econômica agravou o crônico problema de excesso de capacidade do setor, que se expandiu de maneira agressiva nas duas últimas décadas e hoje não encontra compradores para parte do aço que pode colocar no mercado.
Em 2011, as siderúrgicas chinesas tinham estrutura para fabricar 850 milhões de toneladas de aço, mas a produção real foi de 683 milhões, o equivalente a 46% do total mundial. Os 167 milhões de capacidade ociosa equivalem a quase cinco vezes o total da produção anual do Brasil, de 35 milhões de toneladas de aço.
Apesar do desequilíbrio, os investimentos para ampliação das siderúrgicas continuaram e o setor poderá ter uma capacidade instalada de 900 milhões de toneladas no fim de 2012, mas deverá fabricar "apenas" 700 milhões de toneladas de aço, segundo previsão de analistas.
Excessos. "As companhias siderúrgicas estão lutando para sobreviver e muitas têm de suspender ou reduzir a produção para controlar custos", afirmou Zhang Lin, do Lange Steel Information Research Center.
Na opinião de Hu Kai, da consultoria Umetal, o setor vive a pior situação dos últimos 30 anos. "A expansão da capacidade de produção foi muito rápida e agora quase não há aumento da demanda."
Os lucros das empresas despencaram neste ano e algumas passaram a operar no vermelho. A Angang Steel, por exemplo, registrou perdas de 1,98 bilhão de yuans (R$ 640 milhões) nos primeiros seis meses de 2012, depois de ter lucrado 220 milhões de yuans (R$ 71 milhões) em igual período do ano passado. A empresa produziu 9 milhões de toneladas de aço de janeiro a junho e atribui o prejuízo à queda nos preços do aço.
As cotações subiram depois de 7 de setembro, quando o governo anunciou um pacote de US$ 150 bilhões de investimentos em projetos de infraestrutura. O movimento elevou os preços do minério de ferro, que reagiram depois de cair a US$ 87 por tonelada no fim de agosto, o mais baixo nível três anos.
Na semana passada, a cotação estava em torno de US$ 104, mas havia dúvida quanto à sua sustentabilidade.
Zhang Danbo, executivo da Baosteel, avaliou que o impacto do pacote sobre o setor seria "mínimo". Também previu que não deverão ser anunciados novos grandes projetos de infraestrutura no curto prazo.
Mesmo que os preços do minério de ferro se sustentem acima dos US$ 100, a maioria dos analistas acredita que não voltarão ao nível de US$ 130 registrado em julho e muito menos ao recorde de quase US$ 200 atingido no início de 2011.
"Coisa do passado". Su Aik Lim, analista do setor de aço para a Ásia-Pacífico da agência de classificação de risco de crédito Fitch, avalia que as indústrias siderúrgica e de mineração estão buscando novo piso de preços para seus produtos, em um ambiente de mais lento ritmo de crescimento.
O analista da Fitch considera improvável o retorno ao nível de US$ 130 registrado em julho, pelo menos no curto prazo. "Uma alta para esse nível exigiria aumento da demanda por minério de ferro importado em outros mercados além da China", argumentou.
Para Zhu Xian, da consultoria Mysteel, cotações de US$ 130 são "coisa do passado".

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