IPI menor deu gás aos segmentos de bens duráveis

Valor Econômico - 19/11/2012


Depois de ter inflado os resultados de setores beneficiados no terceiro trimestre, o IPI mais baixo seguiu aquecendo as vendas e a produção de automóveis e linha branca em outubro e, segundo expectativas de empresários, pode levar à antecipação de mais compras no fim de ano. Economistas dizem, contudo, que a indefinição quanto a novas prorrogações do desconto traz preocupações para 2013, quando o imposto pode voltar a subir.
Instalada em Betim, em Minas Gerais, a Fiat diz que de modo geral o segundo semestre é melhor para as montadoras, mas que este está sendo excepcional. Com 80,8 mil carros emplacados, as vendas de outubro superaram as de setembro em 13,3 mil unidades, aumento de 19,7%. A prorrogação do IPI até o fim do ano traz à empresa a perspectiva de que muitas pessoas anteciparão a compra do automóvel que ocorreria em 2013.
Foi a redução do IPI, associada à queda dos juros e ao destravamento do crédito, de acordo com a Fiat, que ajudou a reverter o quadro desanimador para as vendas das montadoras no primeiro semestre. De janeiro e outubro, a companhia viu 692,4 mil carros emplacados, 11,9% a mais que em igual período de 2011. No período, o aumento médio do setor foi de 7,2%.
A Renault, com fábrica de automóveis em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, informou que teve o melhor outubro para a marca no Brasil. No mês, foram emplacadas 21,2 mil unidades, 14,6% mais que em outubro de 2011. De janeiro a agosto, foram 201,4 mil veículos emplacados, alta de 33,6% na comparação com igual período de 2011.
No setor de linha branca, outubro foi mais forte do que setembro e também do que igual mês de 2011, segundo Lourival Kiçula, presidente da Eletros, entidade que reúne as fabricantes. A expectativa para o quarto trimestre é que a produção aumente cerca de 10% sobre o mesmo período de 2011, pouco menos que a alta de 15% projetada para o terceiro trimestre nessa comparação.
Kiçula, porém, não vê desaquecimento da produção, pois os dados de dezembro de 2011 foram inflados pelo início do desconto no IPI. Mesmo linhas não beneficiadas, como a marrom (televisor), devem encerrar o ano com alta de 6%. Para ele, além do corte dos juros, o real mais fraco favoreceu a produção, ao diminuir a atratividade dos importados.
O incentivo fiscal também ajudou a Suggar, fabricante mineira de utensílios domésticos. "Estamos trabalhando 24 horas por dia", diz Lúcio Costa, presidente da empresa. Outubro é um dos melhores meses para a Suggar e concorrentes, quando as grandes redes de varejo começam a fazer seus estoques para o período de festas. Além do IPI, que, segundo Costa, teve um peso importante nas vendas de lavadoras de roupa, seu carro-chefe em termos de valor, o vento a favor veio com a queda nos juros, e o nível elevado de emprego. O grupo deve faturar mais de R$ 600 milhões este ano, quase 25% a mais que em 2011.
Para Eduardo Velho, economista-chefe da Planner Investimentos, a prorrogação do IPI reduzido, principalmente para automóveis, e uma melhora gradual nos demais setores, garantirão que a queda da produção industrial de setembro não se repita mais neste ano, mas há dúvidas quanto ao forte crescimento esperado para a indústria em 2013, de 4,1%, segundo o consenso do mercado.
"Essa estimativa é um pouco otimista, porque mesmo após vários meses de queda de juros os demais setores da economia não estão crescendo tanto como o automobilístico", diz Velho, que reduziu de 3,7% para 3,2% sua projeção para o crescimento do próximo ano.
Segundo ele, caso o benefício fiscal não seja estendido no início de 2013, o efeito imediato será aumento de preços dos veículos, o que tirará força das vendas e, com isso, da produção. "As isenções fiscais tiveram seu efeito, mas não foi generalizado. O PIB do terceiro trimestre terá um bom crescimento por causa dessas medidas, mas a sustentação vai depender da persistência delas." Outro ponto é que muitos consumidores anteciparam compras de bens duráveis. Além disso, o nível de endividamento é elevado. (Marcos de Moura e Souza, Tainara Machado, Arícia Martins e Marli Lima)

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