Juros dos EUA continuarão a subir

Autor(es): Por Martin Feldstein
Valor Econômico - 29/08/2013

Seis meses atrás escrevi que as taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos subiriam, fazendo com que os preços dos bônus caíssem tanto que um investidor que mantivesse bônus de dez anos do Tesouro americano perderia mais com a queda do valor do bônus do que a soma que ganharia com a diferença entre a taxa de juros dos bônus e as taxas de juros dos fundos de curto prazo ou depósitos bancários.

Essa advertência mostrou ser correta. A taxa de juros dos bônus do Tesouro de dez anos subiu quase um ponto percentual inteiro desde fevereiro, para 2,72%, o que implica um prejuízo de quase 10% no preço do bônus.

Mas, e quanto ao futuro? A recente alta das taxas de juros de longo prazo é apenas o início de um aumento que punirá os investidores que tentam obter um rendimento adicional por meio da aposta em bônus de longo prazo. Em vista da atual taxa prevista de inflação de 2%, a taxa real dos bônus de dez anos é de menos de 1%. A experiência passada permite inferir que a taxa real subirá para 2% pelo menos, elevando a taxa de juros nominal total para mais de 4%, mesmo se a inflação prevista continuar em apenas 2%.
Taxas de juros baixas dos bônus de curto e longo prazo levam investidores individuais e administradores de fundos a assumir o risco da duração e o risco da qualidade de crédito, na esperança de receber maiores retornos. Estratégia semelhante precedeu a crise de 2008.

A taxa de juros dos bônus de longo prazo se manteve anormalmente baixa nos últimos anos devido à "política monetária pouco convencional" do Federal Reserve de comprar enormes volumes de bônus do Tesouro e outros ativos de longo prazo - o chamado afrouxamento quantitativo (QE, nas iniciais em inglês) - e de prometer manter baixas as taxas de curto prazo por um período considerável. O anúncio, em maio, pelo presidente do Fed, Ben Bernanke, de que o BC americano começaria em breve a reduzir suas compras de ativos e de que poria fim ao afrouxamento quantitativo em 2014 levou as taxas de juros de longo prazo a dar um salto imediato. Embora o anúncio de Bernanke tenha focado os mercados no momento exato em que essa redução de compras começará e com que rapidez vai se desenrolar, essas decisões não vão afetar o nível aumentado das taxas daqui a um ano ou dois.

A promessa de manter as taxas de juros do overnight baixas por um período prolongado visava convencer os investidores de que eles obteriam retornos mais elevados apenas se comprassem títulos de longo prazo. Isso, por sua vez, puxaria para cima os preços desses papéis e reduziria seus retornos. Mas a atual versão dessa promessa - não elevar a taxa de juros do overnight enquanto a taxa de desemprego não cair para menos de 6,5% - não implica mais que as taxas de curto prazo permanecerão baixas por um período "prolongado".

Com a taxa de desemprego atualmente em 7,4% - após ter recuado quase um ponto percentual inteiro nos últimos doze meses -, os mercados podem prever que o limiar de 6,5% poderá ser alcançado em 2014. E a perspectiva de elevação das taxas de curto prazo leva à conclusão de que os investidores não precisarão mais manter bônus de longo prazo em carteira para obter um retorno mais elevado por vários dos próximos anos.

Embora seja difícil prever como as altas taxas de juros de longo prazo acabarão subindo, o grande déficit público e o crescente nível da dívida nacional americana sugerem que a taxa real será superior a 2%. Uma maior taxa de inflação prevista também levará a taxa nominal total a ser superior a 5%.

Os investidores de hoje podem não se lembrar de quanto as taxas de juros subiram nas últimas décadas. A taxa de juros dos títulos do Tesouro de dez anos aumentou a partir dos cerca de 4% vigentes em meados da década de 1960 para os 8% de meados da década de 1970, e para os 10% de meados da década de 1980. Foi apenas no fim da década de 1970 que o Fed, sob o comando de seu novo presidente, Paul Volcker, apertou a política monetária e levou a inflação a cair. Mas, mesmo após a desinflação de meados da década de 1980, as taxas de juros de longo prazo continuaram relativamente altas. Em 1985, a taxa de juros dos bônus do Tesouro de dez anos era de 10%, embora a inflação tivesse caído para menos que 4%.

O maior risco para os detentores de bônus é a inflação voltar a subir, puxando para cima a taxa de juros dos bônus de longo prazo. A história mostra que a alta da inflação acaba sendo seguida pela alta das taxas de juros nominais. Pode, portanto, ser tentador investir em bônus indexados pela inflação, que corrigem tanto o principal quanto os pagamentos de juros a fim de neutralizar os efeitos das variações da alta dos preços. Mas a proteção contra a inflação não impede a perda de valor caso as taxas de juros reais aumentem, deprimindo o valor dos bônus.

As taxas de juros relativamente baixas tanto dos bônus de curto prazo quanto dos de longo levam atualmente tanto os investidores individuais quanto os administradores de fundos institucionais a assumir o risco da duração e o risco da qualidade de crédito, na esperança de receber maiores retornos. Essa é a mesma estratégia de risco que precedeu a crise financeira em 2008. Os investidores têm de reconhecer que buscar o rendimento pode terminar muito mal mais uma vez. (Tradução de Rachel Warszawski))

1 www.bit.ly/ZMRm7B

2 www.1.usa.gov/18JY84s

3 www.bit.ly/15kmlrk

Martin Feldstein é professor de economia na Universidade de Harvard e presidente emérito do Escritório Nacional de Pesquisas Econômicas, presidiu o conselho de Assessores Econômicos do presidente Ronald Reagan de 1982 a 1984. Copyright: Project Syndicate, 2013.