Brasil vive minicrise, admite Mantega

Correio Braziliense - 27/08/2013

O ministro diz que governo não permitirá que a alta do dólar, diante da fuga de recursos para os EUA, seja repassada à inflação. Ele prevê PIB de 4% em 2014
O ministro Guido Mantega disse ontem, em São Paulo, que o Brasil atravessa uma “minicrise” como resultado da fuga de dólares para os Estados Unidos diante das expectativas sobre o fim dos estímulos econômicos do Fed, o banco central norte-americano. “É uma minicrise que estamos vivendo, mas ela trará um impacto muito menor do que as anteriores, porque a economia mundial está em recuperação”, afirma ele em evento do Grupo de Líderes Empresariais (Lide). Segundo o ministro, o país está preparado para se defender das turbulências, graças a fundamentos sólidos e reservas internacionais de US$ 370 bilhões.

A estratégia do governo para evitar a valorização do dólar em relação ao real tem sido oferecer swaps cambiais, que aumentam a disponibilidade da moeda norte-americana no mercado futuro. O objetivo dessas operações, que devem totalizar mais US$ 60 bilhões até o fim do ano, é proporcionar tranquilidade às empresas que possuem obrigações em dólar programadas para os próximos meses. “O Banco Central está empenhado em não deixar que haja oscilação excessiva do câmbio”, afirmou.


Mantega explicou que o montante previsto para os swaps cambiais não configuram um limite, e que o BC pode “colocar até mais de US$ 60 bilhões”. De acordo com a avaliação do ministro, não há escassez que justifique ação da autoridade monetária no mercado spot (à vista). Mas, se houver necessidade, ressalvou, haverá medidas específicas para isso.

Desconhecimento
Ainda que se possa diminuir a oscilação no mercado, Mantega ressalvou que “nenhum ministro sabe” em qual patamar do câmbio se estabilizará, devido às dúvidas que cercam a mudança de política do Fed. Mensalmente, a instituição norte-americana injeta US$ 85 bilhões no mercado por meio da compra de títulos em poder de bancos e empresas, o que é chamado de “afrouxamento quantitativo”.

Quando esse afrouxamento acabar, o dólar tenderá a se valorizar em relação a outras moedas. Mesmo a expectativa de que isso acabe já está causando efeitos no mercado cambial — isso explica boa parte da recente desvalorização do real, ainda que não toda. Mantega afirmou que não se pode prever quando exatamente haverá mudança, pois “nem os diretores do Fed estão se entendendo” sobre a mudança.

Mas, no momento em que a decisão ocorrer, haverá alívio, prevê o ministro. “Quando o Fed começar de fato a retirar os estímulos, o mercado se acalma”, disse Mantega. Segundo ele, o auge da valorização do dólar em relação ao real recentemente pode ter ficado para trás.

O titular da Fazenda espera que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro se acelere em 2014, atingindo 4% — a previsão para este ano é de 2,5%. “Eu acho que em 2014 nós vamos estar crescendo mais. Porque talvez melhore a economia internacional”, afirmou ele.

Combustíveis
Segundo Mantega, o governo está trabalhando para tornar as concessões na área de infraestrutura atrativas ao setor privado. O ministro reforçou, mais uma vez, que está disposto a fazer modificações que sejam necessárias para atingir essa meta. Na avaliação dele, não haverá frustração, porque o investidor se atém a dados objetivos a respeito da economia. “Nos últimos meses, o investimento em renda fixa e na bolsa foram recordes e em Investimento Estrangeiro Direto (IED), também”, reforçou. Isso, de acordo com Mantega, é sinal de
confiança na economia brasileira, e deverá levar a uma melhora das expectativas em breve.

Sobre a elevação do preço de combustíveis, Mantega, negou que haja qualquer decisão para 2013. “O que eu disse é que não haveria aumento em função da variação cambial”, afirmou. Se vai ter algum outro tipo de alteração nos valores, “eu não sei, não tem definição nenhuma”, ressalvou.

A respeito da carestia, Mantega destacou que “a inflação está sob controle. As donas de casa podem ficar tranquilas, pois o governo não deixará que os preços subam”. E acrescentou: “Estamos vigiando a inflação e ela não será obstáculo para a nossa trajetória de crescimento”.

 Nem mesmo a desvalorização do real deve ser motivo para nervosismo, na avaliação do ministro. “O impacto do câmbio na inflação ainda é pequeno. Mas vamos seguir observando”, destacou. Foi também contido, como de hábito, quando indagado a respeito da possível trajetória dos juros: “Não sei se o câmbio terá ou não impacto na Selic. Só o Banco Central pode responder”. O Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, terá a reunião de agosto concluída amanhã.