Dólar forte prejudica a agenda de concessões

Redação T1
Mudança na política econômica dos EUA deve dificultar entrada de recursos externos.
Foto: Marcello Casal Jr/ABr
As razões que levaram ao encarecimento do dólar poderão também reduzir o volume de recursos externos para o Programa de Investimentos em Logística (PIL), do governo federal.
A migração de capitais para os Estados Unidos e outros destinos considerados seguros – consequência da possibilidade de mudança da política monetária norte-americana – reduz a atratividade de um programa que já era criticado pelo excesso de intervencionismo e por ser oferecido por um país que tem crescido pouco.
“Não virá tanto investimento externo quanto eles (o governo) esperam”, diz o professor Evaldo Alves, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Não acho que haverá leilões vazios, mas a concorrência não será acirrada.”
“Para trazer dólares lá de fora, será preciso oferecer taxas internas de retorno maiores para os empreendimentos e aumentar a estabilidade jurídica e administrativa nos processos de concessão”, diz o professor Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral.

Ele acha que a baixa rentabilidade oferecida pelos empreendimentos, somada a um ambiente político desfavorável às concessões por causa das manifestações recentes, “chacoalham” o interesse do investidor externo.
A pouca atratividade para o capital externo é um problema porque o governo conta com ele para financiar uma parte considerável do programa. A maior parte, porém, deverá vir do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O governo já indicou a potenciais investidores em ferrovias que o banco está preparado para financiar todo o investimento.
O mesmo vale para rodovias. No caso dos aeroportos, é exigida a presença de um sócio externo, e nesse caso o governo espera que ele já venha com sua parte financeira estruturada.
Quanto menos dinheiro vier de fora, mais sobrecarregado ficará o banco oficial. “E haja orçamento para sustentar isso”, observa um executivo que esteve na semana passada em Brasília para discutir o programa.
Pelo sim pelo não, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, começam a semana na China para “vender” os empreendimentos do PIL.
Eles foram convidados pelo governo daquele país para fazer uma exposição sobre o programa. Há expectativa, do lado brasileiro, da participação dos chineses com investimentos e tecnologia em ferrovias.
Custo
O financiamento externo às concessões deverá ser mais afetado que o custo dos investimentos. No caso das rodovias, praticamente tudo que será utilizado nas obras de duplicação é matéria-prima local.
O mesmo vale para os aeroportos, que exigirão um volume grande de obras civis. Eles ainda têm a vantagem adicional de ter a maior parte de suas receitas dolarizada.
Em ferrovias, há uma parcela que tem de ser importada. O Brasil não fabrica trilhos, portanto será necessário importá-los para cobrir os 11 mil quilômetros que o governo quer ver construídos nos próximos cinco anos.
Ainda assim, o impacto não deverá ser grande, acredita o presidente para a América Latina da União Internacional de Ferrovias (UIC), Guilherme Quintella. Ele informa que 16% do investimento, abrangendo trilhos e outros equipamentos, virão de fora.
Não são só negativas as consequências da alta do dólar para o programa de logística do governo. Se por um lado os recursos estrangeiros tendem a ficar mais escassos, por outro a demanda pelos serviços de logística deverá aumentar, puxada pelas exportações.
“A alta do dólar é uma injeção na veia da lucratividade”, entusiasma-se o senador Blairo Maggi (PR-MT), grande produtor de soja.
Maggi acha que o momento não é dos mais propícios para os leilões, porque a economia brasileira dá sinais de fraqueza com os principais indicadores decepcionando. “Por outro lado, com os mesmos dólares será possível fazer mais coisas no País”, pondera o senador.
“O volume de negócios vai crescer”, concorda o consultor de Logística da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Luiz Antônio Fayet.
O consultor da entidade também observa que a alta do dólar tem seu lado negativo, pela inflação nos custos. “Mas, do ponto de vista da infraestrutura, o saldo é altamente positivo”, afirma.
Há um ano, o governo lançou o Programa de Investimentos em Logística (PIL), que prevê a concessão de 7,5 mil quilômetros de rodovias e 11 mil quilômetros de ferrovias.
Em seguida, o programa foi ampliado com a inclusão de novos terminais portuários e dos aeroportos de Confins (MG) e Galeão (RJ).
O primeiro leilão do PIL, o de dois trechos de rodovias, está marcado para o próximo dia 18. Ele acontece quase um ano após o programa ser anunciado porque a modelagem das concessões precisou ser modificada para atrair investidores. A primeira tentativa de leilão, no início deste ano, foi suspensa porque o governo foi avisado de que não haveria concorrentes.
A principal queixa era a baixa rentabilidade. No caso das rodovias, ela foi elevada de 5,5% para 7,2%.
Fonte: O Estado de S.Paulo, Por Lu Aiko Otta