Brasil busca novos interlocutores em visita de Obama

Autor(es): Sergio Leo | De Brasília
Valor Econômico - 18/02/2011

A preponderância do Representante Comercial da Casa Branca (USTR) nas discussões de comércio entre Brasil e Estados Unidos será posta em xeque durante a visita do presidente Barack Obama ao país. A diplomacia brasileira localiza nos escalões inferiores do USTR a maior resistência às iniciativas de aprofundamento do comércio bilateral, e, desde o ano passado, discute maneiras de incluir, nas discussões sobre o tema, outros órgãos do governo americano, como a Secretaria de Comércio, mais receptivos às propostas brasileiras.

A assinatura de um tratado de cooperação econômica e comercial (Teca, da sigla em inglês), que poderá ocorrer durante a visita de Obama, marcada para os dias 19 e 20 de março, será um dos mecanismos para formalizar encontros regulares entre autoridades dos dois governos, destinados a remover entraves técnicos, regulatórios e burocráticos ao comércio, agregando outras parcelas da administração americana aos esforços de estreitamento dos laços comerciais. A presidente Dilma Rousseff quer, ainda, conversar com Obama sobre iniciativas para estimular vendas de manufaturados aos EUA e para transferência de tecnologia.

Em 2004, o Brasil propôs aos EUA a negociação de um acordo de livre comércio com o Mercosul, proposta colocada no limbo pelo USTR, que enfrenta dificuldades em aprovar no Congresso acordos já assinados com Coreia do Sul e Colômbia. Uma longa história de contenciosos comerciais leva técnicos e empresários brasileiros a acreditar ser necessário agregar mais interlocutores do governo dos EUA, além do USTR, nas negociações.

A maior expectativa dos empresários com interesses nos dois países está, porém, em outro acordo, o que eliminará a bitributação de companhias com operações no Brasil e nos EUA. No sábado, Obama e Dilma participarão da reunião do Fórum de Altos Executivos Brasil-Estados Unidos, que apresentará aos dois uma lista de prioridades, a principal delas o acordo contra bitributação. A proposta do acordo econômico não aparece entre os principais pontos da lista.

"A bitributação é o principal item na pauta do fórum, porque os outros estão andando bem, como o tempo de emissão de vistos de negócio e aumento na frequência de voos entre os dois países", diz o presidente da Câmara Americana de Comércio, Gabriel Rico.

Ele confirma a avaliação do governo brasileiro, de que a economia e as oportunidades do mercado brasileiro estão entre as principais motivações do governo Obama, na reaproximação com o Brasil. "A visita cria condições políticas para acordos em temas importantes", diz Rico. Rico crê que o aumento no volume de negócios entre os dois países pode fortalecer movimentos no Congresso americano contra subsídios locais prejudiciais aos interesses brasileiros. Apesar do otimismo do executivo, porém, até líderes da indústria paulista reconhecem que há resistências no setor público e no setor privado ao acordo de troca de informações entre as receitas dos EUA e do Brasil.

No dia 25, o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, viajará a Washington, e só nessa visita ficará definida a agenda de Obama em sua viagem ao Brasil.