Um concorrente inconstante, mas que guia preços

Valor Econômico - 18/02/2011

Apesar do recente encolhimento da produção, a Índia pode ser considerada a maior concorrente do Brasil no mercado internacional de açúcar. Consolidou sua força na formação dos preços da commodity nos últimos 10 anos e colaborou para altas recentes na medida que suas exportações diminuíam, favorecendo os brasileiros. Mas, há três safras, o Brasil sentiu o gosto amargo do excesso de açucar indiano no mercado.

Aconteceu no ciclo 2006/07, quando os 50 milhões de indianos que trabalham diretamente na produção da cana - contratados ou como produtores familiares independentes - avançaram a todo o vapor para levar país à maior produção da história: 28,3 milhões de toneladas de açúcar.

O resultado foi um mercado internacional abarrotado e cotações depreciadas. No Brasil, o açúcar ficou encalhado nos portos à espera de compradores, que naquele momento só olhavam para a Índia e seus fretes mais competitivos aos mercados consumidores da Ásia, Oriente Médio e África.

Após a supersafra, diz Abinash Verma, diretor geral da Associação das Indústrias de Açúcar da Índia, muitas usinas ampliaram a capacidade de processamento da cana e novas fábricas surgiram. Hoje, estima-se que as cerca de 500 usinas do país tenham capacidade para produzir 30 milhões de toneladas de açúcar.

No concorrente Brasil, a região Centro-Sul deve produzir 33 milhões de toneladas em 2010/11, enquanto no Nordeste o volume tende a ultrapassar 4 milhões.

A Índia também tem uma centena de usinas de açúcar e álcool desativadas há pelo menos dez anos. São unidades que já pertenciam ao governo antes de 1988, quando todas as indústrias do segmento eram do Estado.

Mas o dedo do governo ainda não saiu dos açucareiros. Estão sob a régua estatal 10% do que cada usina produz. O Estado também controla os estoques e determina o que entra e sai do país por meio de licenças de importação e exportação.

Com os compradores internacionais pagando pelo menos 20% mais do que remunera o mercado doméstico indiano - US$ 800 por tonelada, ante US$ 600 dentro do país -, as usinas batem ponto na porta do governo à espera de licenças de exportação.

As indústrias, segundo a associação, preveem para esta safra um excedente de 3 milhões de toneladas de açúcar no país. O governo já liberou a venda externa de 1,2 milhão, e outras 1,8 milhão aguardam um sinal verde que esbarra na preocupação do poder público com a inflação. Os exportadores têm esperanças porque na Índia a commodity está valendo 20% menos que há um ano.

A expectativa é grande, uma vez que as cotações, que rondam máximas em quase três décadas, podem se manter elevada diante da oferta apertada em outros produtores mundiais como Brasil, Austrália e Rússia.

"Esperamos para a próxima semana a liberação de 500 mil toneladas", diz o diretor geral da associação, que representa para as usinas indianas papel similar ao da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Única) para as indústrias do Centro-Sul.