Cesta de moedas pode ter o yuan e o real

Autor(es): Assis Moreira | De Paris
Valor Econômico - 22/02/2011

Existe a possibilidade de o Fundo Monetário Internacional (FMI) examinar este ano a integração não só do yuan chinês, mas também do real, na cesta de moedas dos Direitos Especiais de Saque (DES), o que daria mais margem de manobra para os países se protegerem da volatilidade do dólar.

John Lipsky, vice-diretor do FMI, disse ao Valor que uma mudança na cesta do DES pode ocorrer sem esperar uma longa negociação sobre a reforma do sistema monetário internacional para refletir a nova realidade econômica internacional.

"A cada cinco anos, o fundo faz um processo de revisão do DES e o próximo será agora", disse ele. "Não há limite teórico no número de moedas na cesta do DES, tudo depende da decisão dos membros do FMI."

Em entrevista coletiva no G-20, em Paris, Dominique Strauss Khan, diretor-gerente do FMI, ao ser indagado sobre o yuan, defendeu a entrada "o mais rápido possível" da moeda chinesa, pois o mundo "não é mais a zona euro, ou os EUA, Grã-Bretanha e Japão".

Um problema é que o yuan não tem conversibilidade. Mas Pequim vem encorajando mais o uso internacional de sua moeda, permitindo, por exemplo, a emissão de bônus denominados em yuan em Hong Kong.

Por sua vez, Paulo Nogueira Batista Júnior, diretor executivo do Fundo Monetário pelo Brasil e mais oito países, disse que, embora se fale com mais frequência na entrada da moeda chinesa, o Brasil tem interesse e vê possibilidade de discutir também a integração do real.

O argumento brasileiro é de que a composição da cesta de moedas do FMI deve refletir a importância relativa das moedas nas transações financeiras e comerciais internacionais. "E o real é mais utilizado do que se pensa, por exemplo nos derivativos", diz Nogueira Batista, frisando falar em nome pessoal.

Em 2010, o Banco Internacional de Compensações (BIS), banco dos bancos centrais, estimou que o real era a segunda moeda mais utilizada nos derivativos no mundo, só superada pelo dólar americano, mesmo se o volume no mercado à vista representar menos de 1% do total global.

A fatia do giro dos contratos de câmbio envolvendo o real em todo o mundo alcançou US$ 28 bilhões por dia, em abril, quase dobrando de 0,4% para 0,7% das transações globais. Em comparação, os negócios com o yuan chinês representavam 0,1% do total mundial.

Criado em 1969, o DES é uma cesta de moedas que no momento inclui o dólar, o euro, o iene e a libra esterlina. Oferece aos bancos centrais um ativo complementar para suas reservas, tendo menos volatilidade de câmbio, pois seu valor é a media de diferentes moedas. Para o FMI, sua moeda virtual poderia ser utilizada também para preços de commodities e emissão de bônus.

A expansão da cesta de moedas pode parecer técnica, mas tem uma dimensão geopolítica importante. Integrá-la é um sinal do reconhecimento da maior influência de uma economia na cena internacional.

A França, na presidência rotativa do G-20, quer discutir o papel do DES e a internacionalização de outras moedas, no contexto de reforma do sistema monetário internacional, mas insiste que não quer "minar" o papel do dólar americano. O dólar tem sido a moeda de reserva mundial desde a Segunda Guerra Mundial. Isso trás prerrogativas e responsabilidades, e os EUA claramente têm sido hábeis em explorar mais as prerrogativas.

Mais países defendem alternativa para o dólar como moeda predominante nas transações internacionais. A Turquia sugeriu no G-20 que os países estimulem esquema de uso de moedas locais no comércio regional.

O ministro de Economia da Argentina, Amado Boudou, lembrou em Paris que é exatamente o que o Brasil e a Argentina tentam fazer. O plano agora é melhorar o mecanismo financeiro para maior utilização de peso e real no comércio bilateral, sem arbitragem do dólar.

"Temos uma ferramenta espetacular para fortalecer o intercâmbio comercial e queremos aperfeiçoá-lo", disse.