Ministra francesa diz que explicará tudo direitinho a Mantega no G-20

Valor Econômico - 18/02/2011

A ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, suspira quando o Valor pergunta se ela acha que já tranquilizou o Brasil sobre os planos de regulação do mercado agrícola e de combate à volatilidade, que estão no centro da agenda francesa no G-20.

"Eu vou tentar explicar ao Guido Mantega bem direitinho o que propomos, não tem ameaça de jeito nenhum", afirmou. O ministro da Fazenda brasileiro saiu de Brasília avisando que o Brasil não aceitaria de maneira nenhuma controle de preço no mercado agrícola. Mas chegou mudo a Paris.

"Controle de preço? Não é controle de preço, "pas de tout, pas de tout" [de jeito nenhum]", repetiu Lagarde enfatizando a frase. "Espero que vocês compreendam."

Quando o Valor insiste que continua difícil entender ao certo o que a França deseja, a ministra menciona até melhora na informação meteorológica, bem diferente do discurso de semanas atrás do presidente Sarkozy, que mencionara problemas de preço de produtos para a pecuária francesa.

"A França não quer administrar os preços agrícolas, não quer fazer pressão sobre as economias para reduzir preço, exportação ou competitividade", disse Lagarde. "O que propomos para discussão é a transparência, a informação adequada, para que o produtor, o fabricante agroalimentar e o consumidor não paguem o custo de especulação indevida baseada em rumor e falta de informação. Informação meteorológica pode ser vista como trivial, mas tem sua importância na agricultura."

Enquanto isso, a imprensa local reflete esse recuo. "A presidência francesa [do G-20] tenta desmontar as polêmicas", diz o site da France 24, uma TV estatal.

O Brasil se mobilizou depois da primeira reunião técnica do G-20, este ano, para matar na origem sinalizações francesas na direção de intervenção no mercado agrícola. Apesar do novo discurso francês, países exportadores ainda acham que Paris quer voltar a dar mais subsídios para seus agricultores.

Hoje e amanhã, Lagarde comandará a reunião de ministros de finanças e bancos centrais do G-20 também com outras preocupações. A China continua dando indicações contraditórias - se aceita ou não indicadores para identificar desequilíbrios macroeconômicos e medidas para corrigi-los.

"Isso é muito debatido, e alguns países não gostam de ser identificados por seguir uma ou outra política", disse Lagarde. Em linhas gerais, todo mundo está de acordo que é necessária uma reforma estrutural na Europa, consumo maior na Ásia e menor em outros países. A China deveria exportar menos e importar mais.

Curiosamente, a valise com material sobre o G-20, distribuído pelo governo francês, inclui um pen drive com letras maiúsculas na caixinha: "Made in China".