Cúpula do Mercosul evidencia racha no bloco

Autor(es): Janaína Figueiredo
O Globo - 20/12/2011

Países se dividem quanto à entrada da Venezuela como sócio pleno e a imposição de tarifas a produtos de fora

O primeiro dia de discussões da 42ª cúpula de ministros e presidentes do Mercosul, que começou ontem em Montevidéu, foi dominado por divergências entre os sócios do bloco em relação a dois assuntos delicados: a entrada da Venezuela como sócio pleno e o aumento das tarifas de importação para produtos externos ao bloco. A crise que assola os países europeus preocupa os governos do grupo, que querem evitar, nesse contexto, que as economias mais desenvolvidas tentem vender mais para a região e, ao mesmo tempo, limitem as importações de países do bloco.

A estratégia de brasileiros e argentinos é ampliar de cem para 200 a lista de produtos que podem ter uma tarifa de importação de até 35%. Porém, Uruguai e Paraguai condicionaram seu apoio à redução das barreiras não tarifárias dentro do grupo, como por exemplo as licenças não automáticas aplicadas, sobretudo, pelo governo argentino. Recentemente, o vice-presidente do Uruguai, Danilo Astori, criticou o protecionismo argentino e disse que o Mercosul vive um de seus piores momentos.

- O Brasil está pleiteando mais cem produtos que possam ter a tarifa elevada. Com isso poderemos fazer uma defesa melhor (de nosso mercado) - disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que chegou à tarde para participar de um encontro entre ministros da Economia e presidentes de bancos centrais.

"A gente vai forçar por um dólar mais valorizado"

Segundo fontes, o encontro de presidentes, que começará hoje com um almoço oferecido pelo uruguaio José "Pepe" Mujica, deverá terminar com poucos acordos concretos. O mais importante seria o entendimento comercial entre o Mercosul e o Estado Palestino. A entrada da Venezuela como sócio pleno foi uma iniciativa defendida pelo governo uruguaio.

Desde o início do dia, o ministro das Relações Exteriores do governo Mujica, Luis Almagro, insistiu num projeto que enfrenta resistência dos governos de Brasil, Argentina e Paraguai, que não querem modificar uma regra básica do bloco: a necessidade de obter a aprovação dos quatro parlamentos para incorporar um novo sócio pleno. Para que a Venezuela passe a ter esse status falta apenas o sinal verde do Senado paraguaio.

- Estamos tentando encontrar uma fórmula jurídica, um caminho para o ingresso da Venezuela no Mercosul - disse Almagro, que destacou ainda o pedido do Equador de seguir o mesmo caminho.

O desejo dos equatorianos será formalizado hoje pelo presidente Rafael Correa, que, pela primeira vez, participará de uma cúpula do Mercosul. Almagro confirmou ainda a presença, hoje, do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Um membro da delegação paraguaia confirmou que a insistência maior foi por parte dos uruguaios que, coincidentemente ou não, estão em plena negociação com a estatal Petróleos da Venezuela (PDVSA) por uma dívida de US$700 milhões.

Mantega, por sua vez, depois de mais de duas horas de reunião com seus colegas de pasta do Mercosul, assegurou que o governo brasileiro "está indo muito bem" em sua tarefa de ter "um dólar mais valorizado e um real mais desvalorizado". Perguntado sobre a possibilidade de voltar a uma cotação em torno de R$1,60 por dólar, Mantega foi enfático:

- Não sei se R$1,60, R$1,50... A gente vai forçar para que haja um dólar mais valorizado e um real mais desvalorizado.

Os ministros discutiram a necessidade de fortalecer instituições multilaterais de créditos como a Corporação Andina de Fomento (CAF), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco do Sul e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

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