Dólar caro provoca efeito bilionário

Valor Econômico - 15/08/2012

Sempre que o dólar registra fortes variações de curto prazo - o que não é raro no Brasil -, a história se repete: o câmbio afeta de forma significativa o resultado financeiro de diversas grandes empresas que não usam instrumentos de proteção para o passivo em moeda estrangeira - ou ao menos não totalmente.

Nesse grupo estão companhias como Petrobras, Vale, Braskem, Fibria, Suzano e Marfrig.

Como no segundo trimestre o dólar subiu 11%, apenas essas seis empresas tiveram despesa financeira somada de R$ 16,3 bilhões.

Mas a companhias que sofrem esse efeito têm a prática recorrente de minimizar essas perdas decorrentes do câmbio. E os três argumentos usados por elas são: a despesa que derruba o lucro não significa desembolso de caixa; a dívida em dólar é de longo prazo; e a companhia está naturalmente protegida, por ter receita atrelada ao dólar.

Isso de fato é verdadeiro, mas não significa que a alta do valor contábil da dívida não tenha consequências negativas.

Quando as variações são bruscas e rápidas, a dívida das empresas sobe de forma imediata após a alta do dólar, enquanto as receitas dolarizadas só aumentam o resultado operacional ao longo dos trimestres, num prazo mais dilatado.

Esse descasamento afeta um dos principais índices de endividamento observados pelo mercado, que é a razão entre a dívida líquida e o Ebitda de uma empresa. (Ebitda é a sigla em inglês para o lucro antes do resultado financeiro, dos impostos sobre o lucro, da depreciação e da amortização)

O numerador dessa divisão sobe de um trimestre para o outro, enquanto o denominador aumenta lentamente.

Para evidenciar que o impacto não é só teórico, vale destacar dois exemplos recentes de empresas de papel e celulose. Fibria e Suzano viram seus níveis de endividamento subir rapidamente exatamente por conta do efeito cambial na dívida. Para reforçar a estrutura de capital, foram a mercado e realizaram ofertas públicas de ações em que captaram R$ 2,82 bilhões em dinheiro novo de acionistas.

Segundo Rodrigo Zuniga, sócio da assessoria financeira da Capitânia, o efeito da alta do dólar sobre os índices de endividamento "certamente é um ponto de controle que deve ser observado".

Mas, apesar do estresse de ter resultado trimestral negativo, muitas empresas avaliam que a diferença de custo da dívida compensa. "No ano passado, uma grande empresa tinha opção de captar no Brasil, pagando cerca de 13%, ou no exterior, em dólar mais 6% ou 7%. Para uma dívida de dez anos, o câmbio precisaria subir muito para não valer a pena", diz, lembrando que não se previa uma queda tão forte da Selic.

Ele lembra, no entanto, que isso não deixa de ser uma aposta, de que o diferencial de juros vai compensar uma eventual variação cambial contra ela.

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