Correio Braziliense - 17/02/2011
As vendas externas de soja e milho produzidos na Argentina devem encolher neste ano, mas os preços continuarão batendo recordes
As exportações de soja e milho da Argentina provavelmente cairão neste ano, devido ao tempo seco que encolhe a produção, apesar de recentes chuvas terem estimulado as estimativas iniciais de colheita. As vendas externas do terceiro maior fornecedor de soja do mundo devem cair para algo entre 9 e 10 milhões de toneladas, ante os 12 milhões de toneladas na temporada passada, disse o diretor da trading Cosur, Freddy Pranteda.
A estimativa de Pranteda é que a produção de soja diminua de 55 milhões de toneladas para, no máximo, 49 milhões. Essa projeção, no entanto, é melhor que a feita pela Bolsa de Cereais de Buenos Aires, na semana passada, de 47 milhões de toneladas. “Com a temperatura mais baixa e a continuidade das chuvas no último mês, acredito que deve haver 48 a 49 milhões de toneladas de soja. Pode até ocorrer uma surpresa de 50 milhões de toneladas se o bom tempo continuar” disse o executivo, num intervalo de uma conferência do setor em Cingapura.
Uma severa seca fez com que muitos analistas reduzissem suas previsões de colheita na América do Sul para essa temporada, antes das semanas de chuva iluminarem as perspectivas da produção. A Argentina, segundo maior exportador de milho do mundo, depois dos Estados Unidos, deve exportar de 11 a 12 milhões de toneladas de milho, numa retração diante de mais de 16 milhões de toneladas no ano anterior. A expectativa é que a produção chegue a 19,5 milhões de toneladas, com recuo de 14%.
Na semana passada, o Departamento de Agricultura norte-americano (USDA) cortou sua estimativa para a produção de milho argentino a 22 milhões de toneladas, numa diminuição de 1,5 milhão de toneladas em comparação com a feita em janeiro. O USDA fixou a produção de soja da Argentina em 49,5 milhões de toneladas, também abaixo na estimativa de janeiro (50,5 milhões).
A menor oferta vinda dos maiores produtores vem puxando os preços dos alimentos. Os contratos de referência do milho norte-americano aumentaram, nesta semana, ao seu maior valor desde 2008. Enquanto isso, o trigo e a soja atingiram as maiores altas em cerca de 2 anos e meio.
Comemoração
Na avaliação do diretor da trading Cosur, Freddy Pranteda, a inflação dos alimentos não terá vida curta. Por isso, os consumidores precisarão se acostumar com a nova realidade. “Eu acho que os preços continuarão 40% ou 50% acima dos níveis históricos. As ofertas continuarão apertadas”, disse. Má notícia para o trabalhador, a carestia é comemorada pelos agricultores. “O cenário atual dos preços é encorajador. A longo prazo, todos os produtores na América do Sul procurarão por mais áreas de cultivo para tentar, eventualmente, atender a toda a demanda que vem chegando.”