Sem BC, dólar tende a seguir em baixa

Valor Econômico - 06/08/2012
Por Eduardo Campos e João José Oliveira | De São Paulo

Em linha com a melhora de humor que pautou a sexta-feira, o dólar teve no dia a maior queda em um mês. A moeda caiu 1,02%, para fechar a R$ 2,029. No mercado futuro, o dólar para setembro cedeu 1,04%, para R$ 2,04.

"O real aprecia e o Banco Central não fala nada. O comprado deveria ficar nervoso. O real vai apreciar todo dia até o BC se pronunciar", diz um gestor.

Para esse especialista, alguns fatores sugerem que o dólar pode passar por forte movimento de baixa. E alguns deles já começam a aparecer, como uma melhora do quadro internacional.

O próximo passo seria a retomada das captações externas, que foram e estão ainda um tanto tímidas em função da aversão ao risco do período recente e das férias no hemisfério Norte.

Tradicionalmente o mês de agosto não é forte, mas não se pode descartar uma "janela de captações". "Esse mercado está em marcha lenta faz meses, assim que der, as operações serão retomadas", afirma, apontando que um indicativo de que a demanda por ativos brasileiros está forte foi a recente operação do Itaú Unibanco que captou o dobro do previsto.

Além desses fatores, a posição técnica está "ruim" para o comprado, aquele que aposta contra a moeda brasileira. Se a apreciação for repentina, esses comprados terão de zerar posição, e isso aumenta a intensidade do movimento de baixa.

"Há uma pressão de apreciação do real, que está descolado de seus pares. A grande variável agora é descobrir em que preço o BC atua", diz.

E está cada vez mais difícil encontrar lógica ou padrão nas intervenções do BC. A última atuação na ponta de compra aconteceu na semana passada, quando a autoridade monetária optou por não rolar cerca de US$ 4,5 bilhões em contratos de "swap cambial" (que equivalem à venda de dólar no mercado futuro).

De acordo com o gestor, a opção por não rolar os swaps chamou atenção, pois foi como se o BC tivesse comprado moeda a R$ 2,05, depois de ter vendido dólares ao mercado na linha de R$ 2,02 - valor da Ptax na colocação de swap em 29 de junho.

Na avaliação desse especialista, o BC não deve tentar defender o suposto piso de R$ 2 neste momento. "É interessante ele não enfrentar todas as forças de mercado", diz.

O efeito sobre o preço seria maior caso o BC permitisse uma volta para R$ 1,95, por exemplo e, aí sim, retomasse as compras.

"Assim, o BC ensina que quem vende errado vai tomar prejuízo. Se ele atua muito próximo do último piso ele não assusta quem está ofertando contra ele", diz o especialista, apontando que essa é uma estratégia bastante utilizada pelo Banco do Japão.

No mercado de juros, a menor aversão a risco abriu espaço para ajustes também na BM&F. Depois de quatro sessões seguidas de queda, as taxas subiram. "Tivemos um ajuste técnico depois de muitos dias de baixa", disse o gerente de tesouraria do Banif, Eduardo Galasini. "Como o mercado caiu muito, os agentes estão ajustando as posições."

De fato, entre a sexta-feira dia 27 de junho e a quinta-feira passada, os DIs mais negociados chegaram a recuar bastante: um exemplo é o contrato DI com prazo em janeiro de 2014, que cedeu de 7,86% para 7,72%, para fechar a última sexta-feira em 7,78%.

Além do quadro externo, também teve influência as declarações do diretor de política monetária do BC, Carlos Hamilton. Ele reafirmou a ideia de que o crescimento econômico do país continuará ocorrendo em ritmo moderado. E destacou a manutenção do desemprego baixo e a inflação convergindo para a meta.

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