Dólar tem maior queda diária desde agosto com medidas do BC

Autor(es): Por José Sergio Osse e José de Castro | De São Paulo
Valor Econômico - 20/12/2012


As medidas do Banco Central e as preocupações com a inflação asseguraram a maior baixa do dólar em mais de quatro meses. Para operadores, o cenário se mostra favorável a novas quedas da moeda americana nos próximos dias.
A baixa de ontem, de 0,91%, foi a mais forte desde 3 de agosto, e levou o dólar a R$ 2,070, menor cotação desde 14 de novembro.
As medidas anunciadas para o câmbio nos últimos dias foram interpretadas pelo mercado como sinal de que governo e BC estão preocupados com o fraco fluxo cambial dos últimos meses. Também indicam receio com a potencial pressão sobre os preços que o dólar mais elevado pode criar num cenário de inflação já elevada e em aceleração.
"O mercado deve tentar testar o novo piso. Ainda mais após essas medidas do BC", disse Reginaldo Siaca, gerente de câmbio da Advanced Corretora. Segundo ele, a moeda pode chegar a R$ 2,05 nos próximos dias, se estabilizando em torno desse patamar. "Mas duvido que a moeda chegue em R$ 2,02. Se chegar nisso, o BC entra", atuando para manter a cotação acima desse nível.
Desde o início do mês, o BC já realizou cinco leilões conjugados de venda e compra de dólares (linhas compromissadas) e dois de swaps cambiais tradicionais (cujo efeito é o de uma venda de dólar futuro). Ontem, após o fechamento, o BC anunciou novo leilão de linha, a ser realizado o hoje antes da abertura do mercado, com oferta de até US$ 2 bilhões, com recompra para março de 2013.
Além dos leilões do BC, o governo alterou prazos para operações de pagamento antecipado de exportações e modificou as regras de cobrança de IOF sobre empréstimos no exterior.
A última medida, que entra em vigor hoje, eleva de US$ 1 bilhão para US$ 3 bilhões o tamanho da posição vendida em dólares isenta de recolhimento de compulsório de 60%. Na prática, a mudança estimula os bancos a tomarem dólares por meio de linhas externas, elevando, em tese, a oferta da moeda americana no Brasil e, por tabela, diminuindo a pressão sobre o real.
As medidas adotadas pelo governo também servem para reduzir o impacto do dólar mais valorizado sobre a inflação.
O avanço de 0,69% do IPCA-15 em dezembro, divulgado ontem, chamou a atenção por mostrar aceleração significativa ante novembro, quando a alta tinha sido de 0,54%. Declaração do ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmando que haverá aumento da gasolina em 2013 evidenciou que a inflação pode ser ainda mais pressionada no início do ano que vem. Para compensar, o BC pode deixar o real se valorizar.
"Essa aceleração [dos preços] é importante para a política cambial, porque limita o espaço para depreciação da moeda brasileira", nota o Itaú Unibanco em relatório sobre o IPCA-15.
O fluxo cambial, detalhado ontem pelo BC, ficou negativo em US$ 4,215 bilhões nas duas primeiras semanas de dezembro. Na semana passada, o saldo negativo foi de US$ 2,864 bilhões.

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