Papo de roda - Automóveis - Por que é tão caro?

Correio Braziliense - 20/12/2012
Boris Feldman

Comparar preços de automóveis no Brasil com outros países sem considerar custos e carga tributária sempre leva a conclusões disparatadas
Por que é tão caro?

Um dos pratos preferidos da imprensa brasileira é criticar o preço dos nossos automóveis. Que são os mais caros do mundo, que o lucro das fábricas no Brasil é estratosférico, que o carro produzido aqui e exportado para o México custa lá a metade, que o modelo importado dos EUA é tabelado aqui pelo triplo, e outros comparativos do gênero.

Até a revista norte-americana Forbes entrou nessa e ridicularizou o consumidor brasileiro ao descobrir que a mesma Cherokee vendida nos EUA por pouco mais de US$ 20 mil é faturada no Brasil por quase US$ 80 mil. 

É muito fácil acusar as fábricas instaladas no Brasil de gananciosas e atribuir ao lucro exagerado o elevado preço dos modelos nacionais e importados. 

Entretanto, além da rentabilidade na operação, os impostos federais e estaduais ficam com a maior parte do cheque do freguês. E tem também o famoso “Custo Brasil”, que onera significativamente o preço do automóvel. Exemplo? O custo da energia elétrica na Europa é 40% menor que o nosso; no México, é a metade; e na Argentina é 60% menos. Frete de um automóvel? A Renault paga R$ 0,50 por quilômetro para levar um carro da Romênia a Paris (2 mil quilômetros) e o transporte leva 30 dias. No Brasil, o frete custa o dobro (R$ 1) e demora 60 dias.

No caso dos importados, para trazer um automóvel que custa US$ 10 mil na origem, pagam-se quase 150% (US$ 15 mil) de impostos de importação, IPI, ICMS, PIS/Pasep, Cofins e outros. Mais despesas de transporte, portos, seguro, capatazia, transporte terrestre etc... Está explicado por que o carro chega aqui por US$ 30 mil?

Sérgio Habib, um dos mais brilhantes empresários brasileiros do setor, montou recentemente uma curiosa tabela comparando preços de sanduíche Mc Donald’s, calça jeans, televisão e revista no Brasil, EUA, Coreia, Japão e Alemanha. Mesmo com a nossa moeda valorizada (ela já chegou a valer a metade em relação ao dólar) e impostos entre os maiores do mundo, o mesmo Toyota Corolla custa mais que o nosso em alguns desses países.

Resumo da ópera: não é só o automóvel, tudo aqui é mais caro...

Comparar tabelas de preços de automóveis no Brasil com outros países sem considerar custos e carga tributária (como fez a revista Forbes) sempre leva a conclusões disparatadas, pois coloca-se frente a frente um brasileiro (que paga quase 50% de impostos) com um norte-americano (8% de impostos, em média). A comparação de um importado do México (Fusion, por exemplo) com o mesmo modelo na Europa (ele é chamado lá de Mondeo), leva à conclusão de que se paga aqui apenas 20% mais que lá. Se a nossa pesada carga tributária for excluída, ele já seria mais barato no Brasil... noves fora a nossa moeda supervalorizada.

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