Mercado de moedas no radar de reguladores

Autor(es): Por Alice Ross e Michael MacKenzie
Financial Times, de Londres e Nova York
Valor Econômico - 13/06/2013


As operações de câmbio que estão no centro da mais recente investigação das autoridades reguladoras do Reino Unido ocorrem no maior e mais líquido mercado financeiro do mundo - e também o mais indomado.
Esse mercado, que transaciona volumes de US$ 4 trilhões, basicamente não é regulamentado e a maioria dos negócios ocorre fora das bolsas de valores, o que deixa os operadores dos grandes bancos de investimentos livres para estabelecer diferentes preços para diferentes clientes.
Os clientes com mais conhecimento sobre o mercado, como os fundos de hedge, sempre se beneficiam das melhores taxas, em parte por negociarem com mais frequência. "A falta de transparência com que isso é conduzido é realmente assustadora", diz um operador.

Em meio ao alvoroço, os índices WM/Reuters representam uma referência para 159 moedas. Determinados de hora em hora, ou a cada 30 minutos para as moedas mais ativamente negociadas, o WM calcula a média das propostas de compra e venda reunidas pela "Reuters" durante períodos específicos de fixação das taxas.
"A taxa WM é o mais próximo que o mercado de câmbio tem de um ponto de referência semi-independente", diz um investidor em câmbio.
Agora, a Financial Conduct Authority está investigando alegações de que operadores podem ter tentado influenciar a fixação das taxas ou lucrar indevidamente, negociando antes das ordens dos clientes com base nas taxas estabelecidas (fix, no termo em inglês).
As preocupações são duplas: alguns operadores estariam forçando ordens durante as janelas de formação de preços, e eles poderiam estar compartilhando informações sobre grandes ordens pendentes que têm potencial de mexer com o índice.
Um ex-operador de câmbio de um grande banco estima que 90% dos contratos de derivativos de câmbio, como swaps e opções, usam a fix da WM/Reuters como referencial. Em um determinado dia, um operador pode ter de 20 a 40 posições determinadas por essa taxa.
Ela também é muito usada por gestores de fundos e fundos de pensão, especialmente depois dos processos movidos contra o State Street e o Bank of New York por causa dos preços no câmbio. "Um número maior de negócios está gravitando em torno de uma taxa fixada e a da WM é vista como um preço transparente", diz Marc Chandler, diretor global de operações de câmbio da Brown Brothers Harriman.
A maior fix do dia ocorre às 16 horas (horário de Londres), com até 10% de todos os negócios diários sendo concretizados nessa hora. Gestores de fundos e fundos de pensão geralmente dão aos bancos ordens para comprar ou vender volumes definidos nesse horário.
Os bancos, então, podem juntar as ordens dos clientes e comprar e vender um certo par cambial, como o euro-dólar. Se têm mais ordens de compra do que de venda, por exemplo, eles tentarão proteger (fazer hedge) da sua exposição no mercado antes do anúncio da fix.
"Os operadores definitivamente tentam comprar, e compram, antes da fix", diz um ex-operador que trabalhava no mercado spot (à vista). Mesmo assim, operadores afirmam que embora eles tentem equilibrar as contas dos bancos antes e depois da fix, os negócios nem sempre lhes são favoráveis.
"A alternativa é pior para os clientes", afirma um ex-operador, que diz que sem a fix, alguns gestores de fundos veriam seus negócios mexer com o mercado e acabar custando mais a eles.
Os fundos passivos que possuem um referencial, têm uma probabilidade maior de querer negociar pela fix. "A razão de eu não usar a fix é que você fica exposto a alguém comprar ou vender no mercado antes de você. Se isso acontece ou não, fica a critério dos princípios morais das pessoas enquanto elas atuam como formadores de mercado", diz um investidor.
Os operadores insistem que as taxas fixadas pela WM/Reuters são bem diferentes do escândalo da Libor, em que bancos foram multados por manipular a principal taxa do mercado interbancário de Londres. As taxas da Libor são baseadas em pesquisas diárias, enquanto que as taxas cambiais fixadas representam a média de negócios que foram, de fato, realizados. "Elas são baseadas em negócios reais, que são visíveis e documentáveis."