Montadoras concordam em estender pacto com Argentina

RedacaoT1
Moan: “Crise de 2008 provocou situações distintas em cada país da região”. Foto:Regis Filho/Valor
O governo brasileiro conta com o apoio dos dirigentes da indústria automobilística doméstica caso ceda ao interesse do governo argentino de adiar o livre comércio de produtos automotivos entre os dois países.
Acordo assinado em 2008 estabelece a isenção de tarifas e de limitações quantitativas a partir de 1º de julho. Mas a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) sugere manter as regras atuais por mais 18 meses.
“Concordamos que nesse momento é melhor para o setor ter esse tempo de adaptação”, afirma Luiz Moan, presidente da Anfavea.
Os governos dos dois países devem reunir-se até o fim do mês para definir a questão. Mas é praticamente certo que o pedido dos argentinos seja atendido, já que governos e empresas têm interesse em manter o bom relacionamento nesse setor.

As exportações de ambos os lados se sustentam no vizinho. Mais da metade dos 473,1 mil veículos exportados pelo Brasil em 2012 foi para o mercado argentino.
E dos 403,5 mil embarcados do outro lado da fronteira, 86% seguiram para o Brasil. É praticamente a mesma quantidade que as montadoras instaladas na Argentina produzem para o mercado interno.
Os impostos no intercâmbio comercial de veículos e peças entre Brasil e Argentina foram extintos no início dos anos 90. Mas os volumes obedecem a coeficientes, criados, quase sempre, para atender a pressões dos argentinos, que temem por distorções na sua balança e tentam usar esse acordo com o Brasil como forma de atrair investimentos.
O chamado coeficiente de desvio das exportações é de 1,95 para o Brasil e de 2,5 para a Argentina. Isso significa que para cada dólar em produtos automotivos importados do país vizinho, o Brasil pode exportar o equivalente a US$ 1,95.
Já a Argentina pode chegar a US$ 2,5. É esse coeficiente que deixaria de existir em julho e que, segundo o cenário indica, será mantido até o início de 2015.
Para a indústria automobilística, que mantém no Brasil o controle das operações nos dois países, ter fábricas nos dois lados da fronteira é uma estratégia interessante.
Moan aponta o desafio do setor de aumentar as exportações para outros continentes. Com produção nos dois países é mais fácil alcançar escala e competitividade.
Uma das metas de Moan, na presidência da Anfavea desde abril, é elevar o volume anual de exportações de veículos produzidos no Brasil para um milhão até 2017. É mais do que o dobro da média atual.
Segundo um executivo do setor que prefere não se identificar, o livre comércio nesse momento não alteraria significativamente o atual quadro de intercâmbio, mantido sob controle pela indústria, interessada em manter a integração produtiva.
O que importa, segundo essa fonte, é preservar a isenção do Imposto de Importação. Uma alíquota de 35% é aplicada hoje, tanto no Brasil como na Argentina, nos carros importados de países fora do Mercosul.
Em caso de rompimento de acordo, as montadoras instaladas no Brasil correriam forte risco de perder o mercado argentino para concorrentes de outras regiões, principalmente asiáticos.
A maior preocupação no setor agora é alinhar os interesses do bloco com vistas aos acordos de intercâmbio comercial com novos blocos, principalmente a União Europeia, cujas negociações estão prestes a começar.
Cabe a cada entidade setorial encaminhar suas reivindicações aos governos. As propostas da Anfavea para o entendimento com a União Europeia já foram entregues ao governo.
Para Moan, a necessidade de harmonizar interesses no Mercosul para negociar com a União Europeia preocupa as empresas. “A crise de 2008 provocou situações macroeconômicas distintas em cada país da região”, diz o dirigente.
Mas o governo precisa resolver a questão do acordo com a Argentina antes de começar a discutir com a Europa. Apesar da perspectiva de ambiente amigável, resta, ainda, saber qual será a postura da Argentina em relação ao conteúdo local.
Já se tornaram frequentes as tentativas do governo argentino de buscar fórmulas para elevar a quantidade de componentes locais nos veículos produzidos no país.
Moan diz que a Anfavea defende a preservação do modelo atual de conteúdo regional, ou seja, qualquer peça do Mercosul é considerada local independentemente do país em que for fabricada.
Fonte: Valor Econômico, Por Marli Olmos