Relatório do BC mostra inflação ainda indócil

Valor Econômico - 28/06/2013

O Relatório de Inflação do Banco Central de junho ratifica as perspectivas do Comitê de Política Monetária e indica a continuidade do aperto monetário nos próximos meses. Os juros continuarão subindo porque a demanda doméstica, ainda robusta, dá sustentação a uma inflação que insiste em não se afastar do teto da meta. "No curto prazo, a inflação em doze meses ainda apresenta tendência de elevação e o balanço de riscos para o cenário prospectivo se apresenta desfavorável", aponta o relatório, em coro com a ata do Comitê de Política Monetária.

O Banco Central reviu sua projeção para o crescimento. O Produto Interno Bruto fechará o ano em 2,7%, ante uma projeção anterior de 3,1%. O desempenho da indústria será inferior ao inicialmente previsto, com avanço no ano de 1,2% (era 2,3%). Igual comportamento deverá ser observado no setor de serviços, que evoluirá 2,6%, 0,5 ponto percentual a menos que na estimativa anterior, de 3,1%. A agricultura vai no caminho contrário e pode crescer 8,4% (antes, 6%).
A política fiscal deverá continuar seguindo sua rota expansionista, a julgar pela previsão de que o consumo do governo avançará mais que o previsto e superará ligeiramente o crescimento do PIB, chegando a 2,8%. Os investimentos, que foram a única luz no quadro sombrio do PIB do primeiro trimestre, continuarão brilhando e, se as estimativas se confirmarem, aumentarão 6%. O consumo das famílias deverá crescer 2,6%, razoavelmente abaixo dos 3,5% projetados inicialmente.

Todos os núcleos de inflação arrefeceram no trimestre encerrado em maio em relação ao trimestre encerrado em fevereiro. A inflação acumulada nos doze meses, porém, ainda apresenta tendência de elevação no curto prazo. Depois que foi deixada por um tempo maior do que o recomendado perto do teto da meta, ela encontra grande resistência em sair daí. E, mesmo crescendo a um passo bem mais moderado, de 2,7%, a economia está perto do seu atual crescimento potencial (ao redor de 3%).

Pelo cenário de referência do Banco Central, que considera juros constantes de 8% ao ano (o nível atual) e um dólar equivalente a R$ 2,10 (data do cenário de corte do BC: 7 de junho), o IPCA fechará o ano em 6%, depois de chegar a 6,8% no segundo trimestre. Ou seja, ainda estará muito longe da meta de 4,5% e permanecerá distante dela até o segundo trimestre de 2015, quando, pela projeção, se situará em 5,5%, depois de recuar para 5,4% em 2014.

O BC enfrenta uma rigidez inflacionária importante. Os preços dos produtos não comercializáveis avançaram 9,7% nos doze meses encerrados em maio e os comercializáveis subiram 6,3%. A inflação cedeu no curto prazo, segundo o relatório, refletindo "em parte o esgotamento de pressões sazonais relacionadas ao grupo educação e a desaceleração dos preços livres, em especial, nos grupos alimentação e transportes".

O BC conta com um arrefecimento dos reajustes salariais e uma expansão mais moderada do crédito como fatores que exercerão menor pressão sobre os preços. Como fatores de propulsão da atividade, por outro lado, estarão os "estoques em níveis ajustados e a gradual recuperação da confiança dos empresários", que criam "perspectivas de intensificação dos investimentos e da recuperação da produção industrial". Turbulento e agora mais complexo pela sinalização do início de normalização da política monetária nos Estados Unidos, o cenário da atividade global, segundo o relatório, deverá ter um ritmo "mais intenso no horizonte relevante para a política monetária".

Há pouca dúvida de que o BC terá de subir mais os juros se a política fiscal não for coadjuvante do aperto monetário. Os números, como a projeção de aumento do consumo do governo, apontam que não há muita ilusão de que isso ocorrerá. Até abril, o esforço primário em doze meses foi de 1,89% e, na melhor das hipóteses, serão atingidos os 2,3% do PIB mencionados pelo governo. Em um dos boxes do relatório, um exercício econométrico aponta que o aumento permanente de um ponto percentual no superávit primário estrutural (que é ajustado pelos ciclos e desconsidera receitas e despesas extraordinárias) têm um efeito máximo apenas ligeiramente inferior ao do aumento de 1 ponto percentual na taxa de juros. Assim, um aperto fiscal seria vital para diminuir a duração do ciclo e a magnitude do aumento dos juros necessários para domesticar a inflação.