País gasta US$ 20 bilhões e fica a ver navios

Autor(es): Washington Barbeito
O Globo - 14/06/2013

Quem já viveu algumas décadas tem o impulso de não mais expor teses que considera acertadas, por achar que as tem repetido em vão e isso se tornaria maçante. No entanto, não há como deixar de fazê-lo, pelo que se vê no panorama nacional. Como se pode pensar em uma potência sem navios? Os Estados Unidos inventaram a bandeira liberiana e os asiáticos - com China à frente - chegaram ao esmero de misturar fretes com preços de produtos, a tal ponto que não se sabe onde está o segredo. China, Japão e Coreia colocam seus produtos por todo lado e, embora confiem nos estrangeiros, têm suas próprias frotas.
E o nosso Brasil? Após o auge dos anos 80, caiu para uma situação inaceitável. Graças à proteção legal, mantém frota própria no transporte costeiro, a cabotagem. No longo curso, não dispõe sequer de um navio em rota regular. Há pouco, armadores internacionais anunciaram aumento nos fretes de e para o Brasil, o que é normal, mas não em níveis similares e na mesma data. O déficit de fretes é estimado em US$ 20 bilhões anuais e, até recentemente, não se dava bola para esse número. Agora, no entanto, os dólares começam a fazer falta.
Proponho o estabelecimento de uma frota de porta-contêineres, para reinaugurar um serviço que existiu até os anos 90. Temos estaleiros e podemos importar navios parcialmente, em acordo com a construção naval, de modo que parte das embarcações venha do exterior e outra parte seja construída no Brasil. O financiamento de um serviço inicial de doze navios modernos é modesto, menor do que novecentos milhões de reais - investimento com retorno garantido, utilizando a maneira internacional, o leasing. Se temos os meios e os recursos, o que falta? Será a vontade nacional para fazermos?
Um grupo de empresários e economistas defende fórmula racional para criação de uma frota nacional. O Governo manteria seus atuais esquemas de financiamento, só que admitindo, como no setor aéreo, o leasing. Em caso de um problema com qualquer empresa, não haveria perda para o sistema, apenas a troca de operador. Com uma frota de pelo menos 12 navios, o Brasil poderia voltar ao transporte internacional de contêineres, sem subsídios, com imediata redução do déficit de fretes, gerando emprego para marítimos e metalúrgicos, racionalizando o serviço - ao se acoplar, inteligentemente, os serviços de longo curso e cabotagem - e ainda reduzindo o Custo Brasil, pois haveria extraordinário impulso à cabotagem, com enorme redução de custos na competição interna com o caminhão. E, o melhor de tudo, não ficaríamos dependendo exclusivamente de estrangeiros para exportar e importar. Há como se trazer de volta os navios nacionais a portos estrangeiros, sem subsídios e apenas com pequenas alterações legais.