CHINA ACUSA OS EUA DE USAREM O IUANE COMO BODE EXPIATÓRIO

A China voltou a bater duro nos Estados Unidos em relação ao câmbio na sexta-feira e diminuiu as esperanças de que a guerra cambial possa ser evitada no curto prazo. De acordo com Yao Jian, porta-voz do Ministério do Comércio chinês, os EUA " não devem fazer do iuane um bode expiatório para seus problemas domésticos".

A moeda chinesa bateu novo recorde de alta contra o dólar norte-americano, na sessão de sexta-feira.

Os Estados Unidos, por sua vez, preferiram evitar que o confronto se agravasse. O governo norte-americano adiou na sexta-feira, para data ainda não definida, a divulgação do relatório semestral sobre o mercado de câmbio, que poderia, na previsão de analistas, taxar a China de manipuladora de sua moeda.

A publicação do documento foi deixada para depois da reunião do Grupo dos Vinte (G-20, que reúne as principais economias do mundo mais os países emergentes), e que está agendada para acontecer nos próximos dias 11 e 12 de novembro.

Falando poucas horas para a hora prevista de divulgação do relatório dos EUA (portanto, sem saber de seu adiamento), Yao Jian disse não ser justo criticar o iuane simplesmente apontando a força das exportações do país.

"É totalmente errado os Estados Unidos fazerem do superávit comercial da China um problema e, portanto, pressionarem o iuane", afirmou ele.

"Outros países não têm o direito de comentar qual seria um nível razoável para o superávit comercial de um país."
Yao também apontou o Japão, dizendo que o país não tem base para criticar o iuane. "O Japão não é o país certo para dizer isso. Ele tem tido superávits comerciais contra a China por oito anos seguidos."

Incentivos nos EUA

No mesmo dia, o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, afirmou que a expansão do balanço financeiro do banco central dos Estados Unidos - o Federal Reserve, ou Fed - é um risco para a expectativa de inflação, mas disse estar confiante em que o banco poderá reduzir o balanço quando preciso. As declarações foram feitas depois de comentários recentes sobre dúvidas quanto à efetividade de um suporte adicional do Fed à economia dos EUA.

O presidente do Fed de Dallas, Richard Fisher, por exemplo, tem-se mostrado cético, argumentando que a incerteza gerada pelo governo, e não a indisponibilidade de crédito, é o principal fator a impedir o crescimento da economia dos EUA.

Outras autoridades vêm afirmando que uma grande expansão do balanço financeiro do Fed vai comprometer gravemente a missão de longo prazo da instituição de manter a inflação controlada.

Em discurso durante conferência promovida pelo Fed de Boston, Bernanke afirmou esperar que a inflação muito baixa persista, dizendo que "com as expectativas de inflação de longo prazo estáveis e com a substancial falta de recursos continuando a restringir as pressões de custo, parece provável que a tendência da inflação permaneça reduzida por algum tempo".

Boa parte da fala de Bernanke ampliou as preocupações com a economia que o Fed delineou em seu recente comunicado sobre política monetária. "Embora o ritmo da recuperação se tenha desacelerado nos últimos meses e de ela provavelmente continuar bastante modesta no curto prazo, as pré-condições de uma aceleração do crescimento em 2011 permanecem a postos", disse.

Se isso se comprovar, "a criação líquida de empregos pode não exceder muito o aumento do tamanho da força de trabalho, implicando que a taxa de desemprego vai declinar apenas levemente", disse Bernanke. "Essa perspectiva é uma preocupação central para os formadores de política econômica", acrescentou.

O presidente do Fed afirmou acreditar que a maior parte do aumento da taxa de desemprego "é atribuível à forte concentração na atividade econômica que ocorreu na esteira da crise financeira e à contínua diminuição da demanda agregada desde então, em vez de fatores estruturais".

Bernanke disse que o Fed ainda precisa agir com cautela, embora tenha ferramentas para afrouxar mais a política.
"Políticas não convencionais têm custos e limitações que precisam ser levados em consideração para julgar se e quão agressivamente elas deveriam ser usadas", lembrou.

O programa anterior de compra de bônus teve êxito em reduzir os juros. No entanto, aumentar ainda mais a folha de balanços do Fed envolve riscos, e é difícil calibrar a extensão de compras adicionais, afirmou Bernanke.

Fonte: Diário do Comércio e Indústria