Entrada de dólares despenca logo após a elevação do IOF

Câmbio: Estrangeiros anteciparam-se à medida e restam incertezas sobre novas barreiras

O fluxo de dólares para o país caiu com força na semana em que o governo anunciou a elevação da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% para 4% sobre capital externo. Nos primeiros dias após a mudança, anunciada no dia 4 deste mês, entre 5 e 8 de outubro, o saldo líquido de entrada de moeda estrangeira foi de apenas US$ 168 milhões, média de US$ 42 milhões por dia. O volume é bastante inferior ao visto nas semanas anteriores, quando a média diária ficou na casa dos US$ 800 milhões, de acordo com números divulgados pelo Banco Central (BC).

Os dados dessa primeira semana ainda não são suficientes para uma avaliação consistente do efeito do IOF sobre as decisões de investimento dos estrangeiros. Afinal, trata-se de um movimento inicial, que ainda reflete as incertezas ligadas às decisões do governo sobre a trajetória do câmbio. Além disso, investidores anteciparam-se à medida, trazendo mais dólares nos dias que antecederam o anúncio do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Afinal, Mantega e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, deram sinais de que poderia haver o aumento do IOF.

A expectativa no médio prazo, no entanto, ainda é de uma forte entrada de recursos por parte dos estrangeiros no Brasil, seja para aplicações em bolsas, seja para investimentos diretos (IED).

Entre os dias 30 de setembro e 4 de outubro, o fluxo foi positivo em US$ 3,753 bilhões, o que pode explicar em parte esse movimento mais fraco da semana passada.

A alta do IOF foi uma das decisões do governo para tentar aplacar a valorização do real, que se intensificou desde meados de setembro. Além do aumento do imposto, o governo também ampliou a atuação do Fundo Soberano e permitiu ao Tesouro Nacional adquirir mais dólares para liquidar suas dívidas em moeda estrangeira.

Mesmo com o fluxo menos intenso nos primeiros dias após a medida, a moeda americana manteve a trajetória de desvalorização em relação à brasileira, fechando ontem em queda de 0,66%, cotada a R$ 1,6554, menor valor desde 1º de setembro de 2008. Desde o dia 4, já caiu quase 2%.

O fluxo acumulado no mês de outubro segue positivo, com entradas líquidas de US$ 2,181 bilhões até o dia 8. O câmbio financeiro, no qual são fechadas as operações com capitais (investimentos em bolsa e títulos, empréstimos) e serviços (turismo, pagamento de juros, remessa de lucros), apresenta fluxo positivo de US$ 3,265 bilhões no mês, como resultado de compras no valor de US$ 11,037 bilhões e de vendas de US$ 7,772 bilhões. O câmbio comercial, no qual são registrados os dados do comércio exterior brasileiro, mostrou saída líquida de US$ 1,084 bilhão, no mesmo período, resultado de exportações de US$ 3,309 bilhões e importações de US$ 4,393 bilhões.

No ano, o fluxo cambial mostra ingresso líquido de US$ 19,303 bilhões, superior ao movimento do ano passado no mesmo período (US$ 10,869 bilhões). O período mais forte de entrada de recursos se deu em setembro, quando a capitalização da Petrobras, além das captações externas de empresas e bancos, levou a um fluxo positivo no segmento financeiro de US$ 16,716 bilhões, maior nível da série iniciada em 1982.

O Banco Central continua a comprar todo o câmbio excedente. As intervenções no mercado à vista somaram US$ 2,764 bilhões em outubro, até o dia 8. As reservas internacionais brasileiras chegaram ao patamar de US$ 279,530 bilhões no dia 8. No início do ano estava em US$ 239,054 bilhões.

Fonte: Valor Econômico