Dependência em derivados leva importação a US$ 15 bi

A importação de combustíveis e outros derivados superou a aquisição de petróleo do exterior no ano passado. O Brasil importou US$ 15 bilhões em derivados e US$ 10 bilhões em óleo bruto, indicando uma nova dependência no suprimento do mercado doméstico.

O aumento da produção interna de petróleo permitiu ao país encerrar o ano com expressivo superávit na balança exclusiva de produto - US$ 6 bilhões, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Mas a necessidade de suprir a demanda interna por gasolina, nafta, diesel, GLP e outros derivados reduziu o impacto desse ganho e fez a balança comercial total do petróleo e derivados encerrar o ano com déficit próximo a US$ 5,8 bilhões. O país gastou US$ 25 bilhões em petróleo e derivados e conseguiu exportar, no mesmo grupo de bens, cerca de US$ 19,2 bilhões, de acordo com a Secex.

O aumento do déficit da balança brasileira de derivados é resultado de uma série de fatores, entre eles um aumento de 10,3% no consumo de óleo diesel, de 21,4% na gasolina A (antes da mistura com álcool) e de 2,2% na nafta até novembro, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) compilados pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Por causa do consumo, a ANP registrava, até novembro, aumento de 160% no volume de importações de óleo diesel. Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, avalia que os dados indicam a necessidade de aumentar a capacidade de refino do país, pois "já temos um quadro de contas externas que é adverso".

Paulo Roberto Costa, diretor da área de Abastecimento da Petrobras, estranha o déficit registrado pela Secex e pela ANP. Segundo ele, em 2010 a Petrobras gastou US$ 8,9 bilhões com a importação de derivados e obteve US$ 5,6 bilhões com as exportações de óleo combustível, bunker (de navios) e gasolina, o que resulta em déficit de apenas US$ 3,3 bilhões. A conta não inclui as importações de gás da Bolívia, a cargo da diretoria de Gás e Energia.

Já no petróleo, a Petrobras contabiliza superávit de US$ 4,8 bilhões em 2010, resultado de importações de US$ 9,1 bilhões de óleo leve e exportações de US$ 13,9 bilhões de óleo pesado. Seu número também é diferente (17,8%) para o crescimento do mercado de gasolina. "Nossas vendas de gasolina aumentaram por causa do álcool. A safra foi menor por conta das chuvas e com o aumento dos preços o consumidor optou pela gasolina", diz o executivo. Os dados do Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom) projetam consumo de 108 bilhões de litros de combustíveis em 2010 - 9,5% mais que no ano passado e maior que o crescimento do PIB, estimado em até 7,5%.

Fonte: Valor Econômico