Banco Central deve elevar taxa de juros

Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do governo Dilma Rousseff, a equipe chefiada pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, vai começar a desatar um complexo nó formado pela inflação acumulada em quase 6% no ano passado. Para isso, o órgão deve elevar a taxa Selic em pelo menos 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano, conforme o consenso de analistas. Certo do início do aperto dos juros, o mercado volta as atenções aos comunicados que serão divulgados após o encontro e deverão trazer a sinalização dos próximos passos da política monetária.

“A ata (publicada sempre uma semana depois da decisão) vai trazer o ‘orçamento’ da Selic para este ano. É nesse primeiro comunicado que a nova gestão vai tentar mostrar o tamanho necessário do arrocho”, avaliou Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC.

A urgência de um novo ciclo de aperto, após seis meses de juros estacionados em 10,75%, foi explicitada pela própria autoridade monetária no relatório de inflação de dezembro. Nele, o BC alerta que as ameaças à estabilidade de preços vão além dos aumentos pontuais nos custos dos alimentos, ocasionados por problemas climáticos ou pela aceleração das commodities (produtos básicos com cotação internacional, como minérios e itens agrícolas). A principal e mais perigosa delas é a transmissão das pressões no âmbito da produção para os demais segmentos da economia.

O repasse aparece nos serviços, que acumularam alta de 7,6% no ano passado, acima dos 5,9% de avanço do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). São esses reflexos secundários que o Copom deve frear, na opinião de Cristiano Souza, economista do Banco Santander. “Não há como combater inflação de alimentos ocasionada por quebras de safras, chuvas e secas. O que vai ser enfrentado é o efeito posterior, evitando que o aumento de preços chegue ao consumidor, via serviços”, disse.

Dose certa

A iminência do aumento de juros contrasta com a dispersão de projeções de qual seria o tamanho necessário do ajuste ao longo do ano. Para Souza, a Selic vai chegar a 13% até julho. O acréscimo de 2,25 ponto percentual só traria o IPCA para o centro da meta de 4,5% em 2012 e não este ano. Para o economista-chefe da Máxima Asset Management, Élson Teles, a alta deve ser mais moderada, com a taxa atingindo 12,25% nas duas próximas reuniões. “A economia ainda está cheia de estímulos ao consumo, mas não dá para imaginar que o aperto de juros vá muito além disso”, ponderou. Um ajuste acima do necessário, destacou Teles, resultaria em danos colaterais à economia como, por exemplo, mais entrada de capital estrangeiro no país, com prejuízo para o setor exportador.

O tamanho do arrocho, no entanto, vai depender da disposição do governo em reduzir a expansão do gasto público. “Precisamos de um mix de contenção fiscal com aperto monetário para segurar o ritmo forte de atividade”, recomendou o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto.

Arrocho certo

Condições que pesarão sobre a decisão do BC

Serviços Os aumentos de preços, principalmente dos alimentos, têm efeito devastador na extensa cadeia de prestação de serviços. Quando comer fora de casa fica mais caro, também sobem os custos de profissionais liberais, empregadas domésticas, serviços de condomínio e outros. Crédito

A farta oferta de financiamentos e crediários do comércio e do sistema bancário é um dos principais motores do consumo, o que também reforça a carestia. A alta da taxa de juros afeta diretamente a disposição das instituições em emprestar. Trabalho O consumidor também tem recebido um estímulo adicional às compras, proveniente do aumento real de salários e incremento da renda familiar. Hoje, há mais pessoas empregadas formalmente e, portanto, com mais segurança em gastar com bens duráveis.

Mão de obra

Alguns segmentos sofrem com a falta de trabalhadores qualificados. Na construção civil, a situação é tão crítica que até os ajudantes gerais sumiram do mercado. O resultado é um custo maior em treinamento e capacitação. Produção O aumento da procura por produtos em um período curto de tempo complicou a indústria nacional. As fábricas têm que operar cada vez mais próximas de seu limite, sem conseguir atender os pedidos. As importações suprem parte da escassez e representam 22% das compras.

Folha online