BC dos EUA mantém estímulos contra desemprego

O Globo - 28/04/2011

Quebrando tradição de 97 anos, Bernanke dá entrevista sobre decisão de não subir juros. Objetivo é gerar emprego sem inflação

WASHINGTON e BRASÍLIA. O presidente do Federal Reserva (Fed) indicou ontem que o banco central americano não tem pressa para reduzir seu estímulo à economia, já que o mercado de trabalho ainda está num "buraco muito, muito profundo". Em uma coletiva sem precedentes, respondendo às perguntas dos repórteres e quebrando 97 anos de tradição do Fed de não informar nada além do comunicado que descreve as decisões tomadas pelo Comitê de Mercado Aberto (Fomc), Bernanke disse que o BC dos EUA está fazendo o que pode para aumentar a geração de emprego sem elevar a inflação.

- É uma recuperação relativamente lenta - disse Bernanke, que parecia nervoso no início. - Muitas pessoas estão tendo um período difícil.

A entrevista de Bernanke foi dada após o Fed reduzir as projeções de crescimento da economia americana este ano. A estimativa feita em janeiro, de 3,4% a 3,9% em 2011, caiu para entre 3,1% e 3,3%. A redução deve-se ao fato de as exportações e os gastos com construção e militares terem sido menores do que o esperado. O crescimento no primeiro trimestre deve ter ficado abaixo dos 2%, segundo Bernanke.

As decisões do Fomc foram anunciadas ontem ao fim de encontro de dois dias e indicam que o banco central crê que a economia ainda precisa de ajuda e que fornecê-la não gerará inflação. As declarações dos últimos encontros do Fed sugerem um aumento gradual em sua confiança na saúde da economia. Já a nota de ontem aponta que a recuperação está ocorrendo num ritmo moderado. O comunicado afirma que as condições do mercado de trabalho "estão melhorando gradativamente".

- Enquanto é muito, muito importante ajudar a economia a criar empregos e apoiar a recuperação, acho que cada banqueiro central entende que manter a inflação baixa é absolutamente essencial para uma economia bem-sucedida e faremos o que pudermos para garantir que isso aconteça - afirmou Bernanke, que busca apoio público.

As observações do presidente do Fed também podem servir de ponto de referência para os investidores, que estão confusos com discursos contraditórios feitos por outros membros do comitê de política monetária às vésperas de cada encontro.

O Fomc aprovou por unanimidade a manutenção de várias políticas que estão sendo adotadas com o objetivo de estimular o crescimento - como manter as taxas de juros de curto prazo em 0% a 0,25% (desde dezembro de 2008) e manter o portfólio de investimento do Fed em seu nível atual, de cerca de US$2 trilhões. O Fed também anunciou que vai concluir seu plano de compra de US$600 bilhões em bônus do Tesouro até o fim de junho.

Um dia depois de acusar os países desenvolvidos de praticar políticas monetárias "frouxas" e antes de saber o resultado da reunião do Fed, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que espera que o organismo mude a estratégia de manter uma expansão monetária para recuperar a economia.

Bernanke deverá falar a respeito do quantitative easing. Se essa política de expansão monetária vai continuar ou não. Eu espero que ele nos diga que não vai fazer o quantitative easing 3, de modo que tenhamos uma perspectiva de diminuir todo esse fluxo de recursos monetários que atrapalha muitos países e causa inflação no Brasil e em outros países emergentes - disse o ministro, que não quis se pronunciar após a decisão do Fed de manter a estratégia.


"Inflação está ficando mais alta", diz presidente do Fed

Segundo Bernanke, a recuperação econômica dos EUA tornou-se auto-sustentável, o que significa que o crescimento continuaria mesmo sem um grande apoio do governo. Apesar disso, acrescentou que ainda quer ver um ritmo mais rápido de expansão e de geração de empregos. E alertou, porém, que se a economia fraquejar, pode ser mais difícil para o Fed tomar medidas de estímulo extras por causa das pressão inflacionária:

- A inflação está ficando mais alta. Não está claro que podemos conseguir melhorias substanciais nas folhas de pagamento sem riscos adicionais de aumento da inflação e minha visão é de que não podemos alcançar uma recuperação sustentável sem controlar a inflação.

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