Sob pressão fiscal, países árabes querem manter petróleo caro

Autor(es): Benoît Faucon e Summer Said | The Wall Street Journal, de Londres
Valor Econômico - 19/04/2011

Depois de aumentar gastos para conter a insatisfação popular, alguns membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo precisam agora de um petróleo mais caro - em certos casos, de uma cotação estimada ao menos US$ 95 por barril - para fazer as contas fecharem, dizem analistas.

Em meio a protestos pela democracia no norte da África, os membros da Opep tentam atingir um delicado equilíbrio. A chamada Primavera Árabe - revoltas populares na África e no Oriente Médio - está levando esses países a gastar mais com empregos e segurança para manter a paz. Mas o custo da estabilidade política é um aumento da cotação do petróleo a longo prazo - o que poderia ameaçar a demanda em países ricos.

No fim de semana, a Arábia Saudita - que há muito defende a moderação dos preços - tomou a surpreendente decisão de engrossar a queixa do Irã de que há petróleo demais no mercado, o que ameaça derrubar o preço. Isso criou uma inusitada situação na qual iranianos, que há muito defendem preços mais altos, e sauditas parecem de acordo na política energética.

O tom foi moderado ontem quando Abdalla Salem El-Badri, secretário-geral da Opep, disse que o mercado estava bem-abastecido e que não havia necessidade de maior oferta de petróleo. Seja como for, analistas dizem que o aumento dos gastos com emprego e segurança nos países da Opep também está influenciando sua postura em relação à cotação.

"O cenário mudou com a instabilidade no Oriente Médio. A conta [das despesas sociais adicionais] está levando os sauditas rumo ao campo dos que querem um preço maior", disse Neil Atkinson, diretor responsável por energia na consultoria Datamonitor.

Nos últimos dois meses, a Arábia Saudita, maior exportador mundial de petróleo, anunciou o equivalente a US$ 129 bilhões em gastos adicionais - para mais contratação no setor público, reajustes ao funcionalismo público e seguro-desemprego. Outros países da Opep, como Argélia e Irã, também elevaram os gastos sociais desde o início da Primavera Árabe.

A grande maioria da receita de exportação dos membros da Opep vem dos hidrocarbonetos - mais de 80% no caso do Irã, 85% na Arábia Saudita e 98% na Argélia.

Segundo o Instituto de Finanças Internacionais, associação de instituições financeiras com sede em Washington, a cotação de que a Arábia Saudita precisa para equilibrar o orçamento vai subir de US$ 68 o barril em 2010 para US$ 88 este ano e US$ 110 em 2015.

Para a Merrill Lynch, o preço de equilíbrio este ano seria ainda maior: US$ 95 o barril. O Ministério da Fazenda saudita não quis comentar. Mas o crescente comprometimento do orçamento deixa pouca margem de manobra, com a cotação média do barril nos EUA a US$ 101 este ano e US$ 96,80 no ano que vem, segundo sondagem de analistas feita pela Dow Jones.

Países como Irã e Venezuela há muito defendem um barril a US$ 100 ou mais e resistiram, até aqui, a qualquer aumento da produção capaz de derrubar os preços.

Em comparação, os sauditas, tidos como líderes da ala moderada, defendiam até recentemente o barril a US$ 70 ou US$ 80 e aumentaram a produção no fim de fevereiro para compensar abalos no fornecimento pela Líbia, mergulhada num conflito.

No domingo, porém, o ministro saudita do Petróleo, Ali Al-Naimi, disse que o país tinha cortado a produção em cerca de 800.000 barris por dia em março devido ao excesso de oferta. O ministro manteve silêncio sobre os preços apesar de os contratos futuros de petróleo em Londres estarem, hoje, mais de 50% acima do nível que ele classificara recentemente de ideal.

"Devemos esperar que o padrão de gastos [dos membros da Opep] (...) tenha influência na cotação que favorecem e em sua política de produção", escreveu Ali Aissaoui, consultor sênior da Corporação Árabe de Investimentos Petrolíferos, no mês passado. A organização, da Arábia Saudita, é controlada em sua maioria por produtores árabes da Opep.

Em nota na semana passada, a consultoria americana PFC Energy observou que "a leva de pacotes de gastos anunciada (...) contribuía para a necessária redução da diferença entre as economias do Conselho de Cooperação do Golfo [que inclui a Arábia Saudita] e os membros da Opep mais gastadores na América Latina e África".

É verdade que a maioria dos dirigentes da Opep acha, também, que não há nada que o bloco possa fazer para conter a alta dos preços, motivada a seu ver pela especulação e pela preocupação infundada com o abastecimento.

El-Badri, da Opep, disse que não há necessidade de o bloco aumentar a produção, pois "ninguém está comprando [barris adicionais]". Só que a necessidade de muitos membros da Opep de manter os preços elevados para cobrir gastos poderia prejudicar seus interesses a longo prazo.

No curto prazo, Nobuo Tanaka, diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), disse que espera uma elevação da demanda em meados do ano, à medida que as refinarias aumentarem a produção. Mas tanto a Opep como a AIE alertam que havia sinais de que a cotação elevada do petróleo estava começando a segurar o crescimento do consumo.

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