Bernanke prepara terreno para fim do programa de compra de bônus

Autor(es): Luca Di Leo, Jon Hilsenrath e Tom Barkley | Dow Jones
Valor Econômico - 28/04/2011

O Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, sinalizou ontem para o fim de seu controvertido programa de compra de bônus de US$ 600 bilhões, conforme planejado, preparando o terreno para decisões difíceis sobre o aumento das taxas de juros, diante do alto nível de desemprego e da ameaça de inflação.

O fim do programa de compra de Treasuries, que o Fed implementou em novembro para melhorar as condições financeiras, já vinha sendo indicado pelo banco central americano, que fez disso uma quase certeza ao afirmar em um comunicado divulgado ontem, ao fim de uma reunião de dois dias, que "vai concluir" as aquisições até o fim de junho.
Isso representa efetivamente o fim de um ciclo de afrouxamento monetário sem precedentes, no qual o Fed reduziu as taxas de juros de curto prazo para perto de zero e adquiriu mais de US$ 2 trilhões em títulos do Tesouro americano e bônus hipotecários, inundando a economia com dinheiro.

Após o comunicado, o presidente do Fed, Ben Bernanke, concedeu sua primeira entrevista à imprensa após uma reunião do bc desde que assumiu o cargo. Nela, disse que o Fed não tem um cronograma específico para o começo do aperto na política monetária dos EUA.

Mesmo mostrando confiança de que o Fed tem ferramentas para iniciar o aperto quando necessário, Bernanke disse: "Não sabemos com certeza com que rapidez uma resposta terá de ser necessária".

No entanto, ele sugeriu que uma terceira rodada de compra de ativos representa um cenário de troca "menos atraente", por causa da alta da inflação. "Não está claro que conseguiremos melhorias substanciais nas folhas de pagamento sem um risco adicional de inflação", disse ele aos jornalistas. Bernanke disse acreditar que a recuperação econômica é sustentável e que os EUA estão em uma "recuperação moderada".

Os jornalistas fizeram perguntas de todos os tipos, das perspectivas para o emprego à alta dos preços de gasolina nas bombas. Bernanke disse que o Fed continua acreditando que as altas recentes dos preços da gasolina e a redução do ritmo de crescimento da economia em relação ao primeiro trimestre serão "transitórios".

"Nosso ponto de vista é que muito provavelmente... os preços da gasolina não continuarão aumentando no ritmo recente", disse ele. Bernanke acredita que na medida em que os preços da gasolina se estabilizarem e mesmo começarem a cair, os indicadores mais amplos da inflação se abrandar.

Para Bernanke, alguns dos fatores que prejudicaram a economia nos primeiros três meses do ano, como os gastos menores que os esperados com defesa e as exportações mais fracas, também terão vida curta.

As políticas do Fed vêm atraindo críticas crescentes nos últimos anos, de legisladores americanos e governos estrangeiros, e Bernanke vem respondendo aumentando as oportunidades para explicar as políticas e conter as críticas.

A escolha do momento em que as taxas de juros serão aumentadas será difícil. A economia americana pareceu tropeçar no primeiro trimestre. O Departamento do Comércio deverá anunciar hoje que ela cresceu menos de 2% entre janeiro e março. Mas com os preços das commodities mais altos, o Fed está sob uma pressão crescente para que responda às ameaças de inflação com juros maiores.

O Fed está esperando para começar a subir os juros mesmo com outros bancos centrais - principalmente o Banco Central Europeu e os bancos centrais de mercados emergentes - já elevando suas taxas.

Por enquanto, os funcionários do Fed parecem não estar com pressa em seguir a tendência de aperto dos juros. No comunicado de ontem, eles reiteraram acreditar que as taxas de juros de curto prazo permanecerão no patamar recorde de baixa por um "período prolongado" e disseram que pretendem manter firme o tamanho do balanço do Fed, de US$ 2 trilhões, reinvestindo os recursos quando os bônus de seu grande portfólio vencerem.

A descrição que eles fizeram ontem da economia pouco mudou em relação à caracterização feita na última reunião do Fomc em março. A recuperação econômica, que já dura quase dois anos, está "prosseguindo num ritmo moderado" e o mercado de trabalho está melhorando gradualmente, disse o comunicado. Após a reunião de 15 de março, funcionários do Fed descreveram a recuperação como num "passo mais firme". Embora os gastos do consumidor e os investimentos corporativos continuem aumentando, o setor imobiliário residencial ainda está "deprimido".

Como já fizeram antes, os funcionários do Fed reconheceram que os preços mais altos do petróleo, grãos, algodão e outras commodities estão exercendo uma pressão de alta sobre a inflação. Mas como a maioria dos funcionários, incluindo Bernanke e seus principais assessores, acredita que os efeitos sobre os preços ao consumidor serão temporários.

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